terça-feira, 2 de junho de 2015

Para falar da cultura e história, do passado e do presente

*Texto originariamente publicado no Jornal Tribuna Impressa de Araraquara 

Valquíria Tenório é professora universitária, 
socióloga e pesquisadora de cultura e 
história na temática etnicorracial, 
escreve neste espaço às terças.

Foi com prazer que recebi o desafio de escrever semanalmente uma coluna neste jornal. Bem, pra falar a verdade não foi só com prazer, foi também com receio que recebi o convite para ser colunista, a princípio, sobre cultura de forma geral, mas devido minha bagagem e experiência acadêmica pretendo usar esse espaço para falar um pouco sobre cultura, história e educação numa perspectiva etnicorracial. 

Tantas coisas há para se falar!!!! Mesmo coisas básicas ainda são ignoradas. Muitas pessoas não sabem que desde 2003 existe uma lei a 10.639 que instituiu o ensino de História e Cultura Africana e Afrobrasileira no sistema de educação do nosso país. E que um objetivo dessa lei é resgatar historicamente a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira. 

Aí vocês podem me perguntar, mas para que uma lei como essa? Justamente, para trazer um novo olhar sobre a história da população negra, uma história escondida e por não ser contada acaba sendo ignorada. Infelizmente, ainda é necessário derrubarmos muitos equívocos e preconceitos. Por exemplo, muitas pessoas falam e escrevem sobre o continente africano como se fosse um único país quando na verdade trata-se de um continente composto por 54 países independentes, com línguas diversas, grupos populacionais diversos, culturas, economias e geografias diversas. Parece inacreditável alguém ainda pensar isso, ou desconhecer essa realidade, mas digo a vocês isso acontece e muito. É só escrever África no Google para encontrar uma série de páginas que nada mencionam sobre a quantidade de países existentes no continente. 

E se olhamos para o nosso país, o que sabemos sobre a história das populações negras nas diferentes cidades brasileiras? O que nos ensinaram além da maneira como chegaram aqui no período escravista?

Vocês sabiam que em muitas cidades do interior paulista existiam locais de passeio diferenciado para brancos e negros? Que muitos lugares não permitiam a entrada de negros, isso ainda na metade do século XX? Esse impedimento existiu mesmo sem a existência de leis ou regulamentações, como houve no apartheid da África do Sul e na lei Jim Crow no sul dos Estados Unidos. Mas, também existia muita luta, resistência, muitos espaços criados pelas populações negras para a confraternização, para o fortalecimento da identidade.

Há uma quantidade enorme de informações que precisam ser transmitidas, discutidas, compartilhadas. Por isso, quando recebi o convite para escrever essa coluna me veio à mente uma gama enorme de assuntos para tratar com vocês, do passado e do presente, de dentro e de fora do nosso país, da cultura e da história africana e afrobrasileira. 

Feita essa apresentação de algumas das motivações que me levam a escrever quero falar para vocês de um espaço que precisa ser conhecido por todos nós. Está ali na cidade de São Paulo no Parque do Ibirapuera, o Museu Afro Brasil, inaugurado em 2004. Conta com mais de 6 mil obras, entre esculturas, pinturas, gravuras, fotografias e documentos. É um lugar para se respirar história e cultura, do passado, mas também do presente. No último dia 26 de maio foi inaugurada a exposição “Africa Africans”, a maior mostra de arte contemporânea africana já realizada no Brasil, conta com cerca de 100 obras de mais de 20 artistas africanos. Essa mostra quer quebrar com uma visão de África única, ultrapassada, de miserabilidade ou idealizada. Quer mostrar um continente vivo e plural. A mostra se encerra em 30 de agosto.  No site do Museu, além de muitas informações sobre o acervo permanente, história do museu, ações educativas nele realizadas é possível assistir um vídeo com a montagem dessa mostra.

 Agora sou eu que faço um convite. Vamos fazer deste espaço um ambiente para ampliarmos nosso olhar?