Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Esse é o último artigo do ano. E que ano! Só espero,
sinceramente, que 2017 seja pelo menos um pouco melhor. É preciso ter esperança
para que não sejamos derrubados pelas dificuldades. É preciso consciência, equilíbrio,
garra para enfrentar as batalhas que ainda virão, afinal viver é um desafio
constante. O Brasil precisa se recompor, precisamos de pessoas sérias, de uma
classe política comprometida com o melhor para os cidadãos em geral e em suas
especificidades, mas para isso, precisamos também ser sérios e comprometidos.
Precisamos encontrar saídas em conjunto, uns e outros, pois estamos perdendo
conquistas valiosas, nosso país parece naufragar, não há condução, não há diálogo,
mas nós somos destemidos e não estamos passivos como querem nos fazer parecer
ser. Há muitos de nós gritando, marchando, agindo de um jeito ou de outro.
Afinal, tem sido assim: lutar sempre no campo em que estivermos.
Na semana passada, encontrei duas pessoas bastante
queridas, um casal que me encheu de esperança, Pércio e Ivone Damázio,
completaram 70 anos de união e 88 anos de idade, ambos. Praticamente, uma vida
inteira, juntos!
Sr. Pércio, ferroviário aposentado, foi a primeira pessoa
que entrevistei durante minha pesquisa de mestrado sobre o Baile do Carmo. Fez
parte da Sociedade Recreativa Cruzeiro do Sul que existiu na cidade. A ele me
referencio, sempre. No alto de seus 88 anos, permanece lúcido, elegante, cheio
de vivacidade e uma memória invejável. Dona Ivone uma mulher forte, firme, mas
ao mesmo tempo para mim, uma doçura, preocupada durante nosso encontro em me
passar receitinhas caseiras para encerrar uma tosse que vem me perseguindo. Sempre
gentil, me entrega um vidro de mel e me pede para tomar com regularidade, com
limão, com chá ou puro mesmo. Aceito o presente e me sinto feliz, querida.
Fizeram um pequeno mimo para os familiares e amigos a fim
de registrar suas bodas, um lindo cartão marcando os 70 anos de união e
desejando boas festas. Tive a honra de receber um. Em tempos de tanta
desestrutura, de caminhos duros, ainda há amizade e amor.
Como
viver tanto tempo juntos? Dona Ivone me responde que é preciso muita paciência,
para superar as diferenças, para driblar os problemas que aparecem, para
constituir uma família, para arrefecer as perdas e as ausências que uma vida
longeva impõe. É bonito vê-los juntos! Existe amor neles, daquele pouco falado,
exposto e mais vivido. Deixo-os com uma sensação de esperança que o tempo pode
sim nos unir, pode sim ser mais propício.