Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Essa coluna tem sido uma maneira de contribuir para
refletirmos sobre temas importantes, principalmente, aqueles temas
marginalizados ou esquecidos pelo registro histórico oficial. Há tanta
pluralidade de práticas, vivências e pessoas que precisam ser conhecidas a fim
de superarmos preconceitos e conseguirmos respeitar as diferenças.
Eduardo Lourenço é exemplo de uma
pessoa que precisa ser conhecida. Foi um escravizado em Araraquara, mas pouco
sabemos sobre sua vida. Está enterrado desde agosto de 1915 no cemitério São
Bento. Em sua lápide constam algumas breves informações sobre ele, entre elas
que teria nascido em 1834 e conseguido a liberdade em 1886, dois anos antes da
abolição da escravidão no Brasil ocorrida em 1888. Eduardo inspira respeito e
grande devoção há algum tempo o que pode ser constatado pelas diversas placas
de pessoas que alcançaram alguma graça por seu intermédio.
Não poderia deixar de registrar o ato
que ocorreu no domingo, dia 18 de dezembro, no cemitério São Bento. Por iniciativa
de Rogério Belmiro Tampellini, pesquisador que tive o prazer de conhecer na
ocasião, uma pessoa dedicada à preservação dos patrimônios da cidade, houve o
tombamento do túmulo de Eduardo Lourenço, conhecido, popularmente, como Escravo
Eduardo, Santo do Povo, Santo Milagreiro. Tal ação foi deliberada pelo COMPPHARA,
cuja responsabilidade está na preservação do patrimônio material e imaterial da
cidade. Rogério conseguiu apoio de diversos vereadores, da Igreja Anglicana do
Brasil, através do arcebispo dom Ricardo Lorite de Lima da Arquidiocese de
Ribeirão Preto e do Terreiro de Umbanda “Pai Eduardo – Caboclo Irapuá” para
levar adiante o registro desse patrimônio.
A cerimônia de tombamento foi conduzida
por dona Marina, Babá do Terreiro e por todos os presentes. Este evento me fez
refletir quantas informações ainda precisam ser levantadas sobre pessoas como
Eduardo Lourenço, qual seria sua história, como vivera após ter conseguido sua
liberdade? No entanto, diante de tudo que temos vivido nos últimos tempos, de
desrespeito causado em grande parte pela ignorância e desconhecimento da
pluralidade existente e necessária também na maneira de vivenciarmos a
religiosidade e o contato com o divino, uma iniciativa como essa, em torna-lo um
patrimônio da cidade, é algo louvável que deve ser registrada, promovida,
divulgada.
Em
tempos de Natal, aproveitemos o momento para refletirmos ainda mais sobre a necessidade
de aceitar os outros e a diversidade como um ato de amor e respeito a todos.