terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Eduardo Lourenço

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática étnico-racial.

Essa coluna tem sido uma maneira de contribuir para refletirmos sobre temas importantes, principalmente, aqueles temas marginalizados ou esquecidos pelo registro histórico oficial. Há tanta pluralidade de práticas, vivências e pessoas que precisam ser conhecidas a fim de superarmos preconceitos e conseguirmos respeitar as diferenças.
Eduardo Lourenço é exemplo de uma pessoa que precisa ser conhecida. Foi um escravizado em Araraquara, mas pouco sabemos sobre sua vida. Está enterrado desde agosto de 1915 no cemitério São Bento. Em sua lápide constam algumas breves informações sobre ele, entre elas que teria nascido em 1834 e conseguido a liberdade em 1886, dois anos antes da abolição da escravidão no Brasil ocorrida em 1888. Eduardo inspira respeito e grande devoção há algum tempo o que pode ser constatado pelas diversas placas de pessoas que alcançaram alguma graça por seu intermédio.  
Não poderia deixar de registrar o ato que ocorreu no domingo, dia 18 de dezembro, no cemitério São Bento. Por iniciativa de Rogério Belmiro Tampellini, pesquisador que tive o prazer de conhecer na ocasião, uma pessoa dedicada à preservação dos patrimônios da cidade, houve o tombamento do túmulo de Eduardo Lourenço, conhecido, popularmente, como Escravo Eduardo, Santo do Povo, Santo Milagreiro. Tal ação foi deliberada pelo COMPPHARA, cuja responsabilidade está na preservação do patrimônio material e imaterial da cidade. Rogério conseguiu apoio de diversos vereadores, da Igreja Anglicana do Brasil, através do arcebispo dom Ricardo Lorite de Lima da Arquidiocese de Ribeirão Preto e do Terreiro de Umbanda “Pai Eduardo – Caboclo Irapuá” para levar adiante o registro desse patrimônio.
A cerimônia de tombamento foi conduzida por dona Marina, Babá do Terreiro e por todos os presentes. Este evento me fez refletir quantas informações ainda precisam ser levantadas sobre pessoas como Eduardo Lourenço, qual seria sua história, como vivera após ter conseguido sua liberdade? No entanto, diante de tudo que temos vivido nos últimos tempos, de desrespeito causado em grande parte pela ignorância e desconhecimento da pluralidade existente e necessária também na maneira de vivenciarmos a religiosidade e o contato com o divino, uma iniciativa como essa, em torna-lo um patrimônio da cidade, é algo louvável que deve ser registrada, promovida, divulgada. 
           Em tempos de Natal, aproveitemos o momento para refletirmos ainda mais sobre a necessidade de aceitar os outros e a diversidade como um ato de amor e respeito a todos.