terça-feira, 18 de abril de 2017

Vivências e Aprendizados

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática étnico-racial.

               Há momentos em que ficamos desmotivados, cansados, tristes em sermos professores, educadores. Mas, há também e felizmente muitos outros que nos propiciam alegrias, orgulho, esperança, força. Saber lidar com essa roda viva é de suma importância para mantermos um pouco de sanidade diante de tantas demandas, cobranças externas, burocráticas, mas internas e subjetivas.
               Eu sou daquelas que se cobra, constantemente e, muitas vezes, de maneira implacável. E trata-se de uma cobrança a mim mesma, se estou fazendo o melhor possível, se estou sendo objetiva, se me faço entender, se posso oferecer mais, se devo dar mais tempo. Teoria e prática são repensadas em sala de aula. Mas, há algo que me incomoda muito e tem muito a ver com a minha personalidade, com minha formação, com o meu tempo histórico, com o mundo em que eu vivi minha formação inicial repleta de valores, regras, hábitos e conceitos diferentes. No entanto, eu custo a concordar com a falta de dedicação e o desrespeito com o outro quando estamos em situação de sala de aula. Tenho certeza que não sou a única, mas o que fazer?
               É preciso se distanciar, é preciso olhar o contexto, é preciso fazer um exercício intenso de entender o outro, a diversidade de tempos, vivências, olhares, entender que temos uma tarefa maior do que a de passar os conteúdos de uma matéria, é necessário um esforço grande para entender que muitas vezes precisamos mostrar que o processo de aprender é algo que também precisa ser aprendido e isso leva tempo.
Fizemos um grandioso evento no IFSP campus Matão de 10 a 13 de abril, tratou-se da “III Semana da Diversidade: todos sob o mesmo céu”, discutimos uma série de temas prementes, pulsantes, extremamente importantes para um contexto escolar e para a nossa vida fora dele. Foram palestras sobre gênero, questão indígena, sessão de filme, roda de conversa sobre sororidade, conferência sobre racismo institucional, palestra e mini-curso sobre sexualidade, conferência sobre quilombolas, sobre apropriação cultural, sobre direitos humanos, sobre imigração japonesa e cultura, tivemos também apresentações artísticas, vivências e um concurso de fotografia, além de intervenções anteriores ao evento. Foi rico, foi bonito, foi intenso, fomos ousados! Uma semana discutindo temas tão cruciais com palestrantes altamente qualificados, engajados e imbuídos na mudança de perspectivas.
                Durante o processo de realização houve tensão quanto à participação dos estudantes, ávidos em falar desmedidamente, em não ouvir, em estar fisicamente no local, mas não integralmente, em não vivenciar o que havíamos proposto com tanto zelo. Mas, essa é apenas uma face da moeda, pois houve aqueles que se entregaram que viveram conosco todas as discussões e ainda mais, voltando a rotina de sala de aula, percebo que os tempos são múltiplos e que de fato o aprendizado se fez e é possível de ser feito mesmo quando não parece a mim, alguém que ainda usa suas experiências como comparativo.  
                É preciso criar oportunidades sempre para que o ensino-aprendizagem ocorra, e trata-se de um processo que não tem uma mão única e nem pode ser assim.