Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Há
momentos em que ficamos desmotivados, cansados, tristes em sermos professores,
educadores. Mas, há também e felizmente muitos outros que nos propiciam
alegrias, orgulho, esperança, força. Saber lidar com essa roda viva é de suma
importância para mantermos um pouco de sanidade diante de tantas demandas,
cobranças externas, burocráticas, mas internas e subjetivas.
Eu
sou daquelas que se cobra, constantemente e, muitas vezes, de maneira
implacável. E trata-se de uma cobrança a mim mesma, se estou fazendo o melhor
possível, se estou sendo objetiva, se me faço entender, se posso oferecer mais,
se devo dar mais tempo. Teoria e prática são repensadas em sala de aula. Mas,
há algo que me incomoda muito e tem muito a ver com a minha personalidade, com
minha formação, com o meu tempo histórico, com o mundo em que eu vivi minha formação
inicial repleta de valores, regras, hábitos e conceitos diferentes. No entanto,
eu custo a concordar com a falta de dedicação e o desrespeito com o outro quando
estamos em situação de sala de aula. Tenho certeza que não sou a única, mas o
que fazer?
É
preciso se distanciar, é preciso olhar o contexto, é preciso fazer um exercício
intenso de entender o outro, a diversidade de tempos, vivências, olhares,
entender que temos uma tarefa maior do que a de passar os conteúdos de uma
matéria, é necessário um esforço grande para entender que muitas vezes
precisamos mostrar que o processo de aprender é algo que também precisa ser
aprendido e isso leva tempo.
Fizemos um grandioso evento no IFSP campus Matão de 10 a
13 de abril, tratou-se da “III Semana da Diversidade: todos sob o mesmo céu”,
discutimos uma série de temas prementes, pulsantes, extremamente importantes
para um contexto escolar e para a nossa vida fora dele. Foram palestras sobre
gênero, questão indígena, sessão de filme, roda de conversa sobre sororidade,
conferência sobre racismo institucional, palestra e mini-curso sobre
sexualidade, conferência sobre quilombolas, sobre apropriação cultural, sobre
direitos humanos, sobre imigração japonesa e cultura, tivemos também
apresentações artísticas, vivências e um concurso de fotografia, além de
intervenções anteriores ao evento. Foi rico, foi bonito, foi intenso, fomos
ousados! Uma semana discutindo temas tão cruciais com palestrantes altamente
qualificados, engajados e imbuídos na mudança de perspectivas.
Durante o processo de realização houve tensão
quanto à participação dos estudantes, ávidos em falar desmedidamente, em não
ouvir, em estar fisicamente no local, mas não integralmente, em não vivenciar o
que havíamos proposto com tanto zelo. Mas, essa é apenas uma face da moeda,
pois houve aqueles que se entregaram que viveram conosco todas as discussões e
ainda mais, voltando a rotina de sala de aula, percebo que os tempos são
múltiplos e que de fato o aprendizado se fez e é possível de ser feito mesmo
quando não parece a mim, alguém que ainda usa suas experiências como
comparativo.
É preciso criar oportunidades sempre para que o
ensino-aprendizagem ocorra, e trata-se de um processo que não tem uma mão única
e nem pode ser assim.