Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Como
é importante entender que a vida precisa estar amparada em uma compreensão da
diversidade e mais de uma completa aceitação de que somos diversos, nas cores,
jeitos, línguas, origens, classes sociais, religiões, pensamentos e tantas
outras características e identidades que nos fazem ser tão incrivelmente
complexos e interessantes.
Na
última quinta-feira dia 23 de março participei de uma atividade do Mês da
Mulher realizada pelo Centro de Referência da Mulher “Professora Heleieth
Saffioti” na Sala Jean Paul Sartre na Casa da Cultura de Araraquara. Tratou-se
da exibição do filme “Meu nome é Jacque” baseado na vida de Jacqueline Rocha
Côrtes, uma pessoa incrível que venceu tantas dificuldades, superou tantos
desafios e aprendeu sobre engajamento político e militância na prática,
construindo sua própria história e identidade.
Jacqueline é uma mulher transexual nascida em um corpo
que a aprisionava, não se enxergava nele. Ela se refere a dor de estar em um
corpo que não a representava fisicamente e tampouco em sua subjetividade. Todos
à sua volta percebiam essa dissonância, especialmente sua mãe, seu porto
seguro, figura forte e constante em sua vida. Jacqueline era uma mulher em
corpo de homem, se identificava com tudo o que dizia respeito ao mundo feminino.
Felizmente e, diferentemente, de muitos casos do passado e no presente,
Jacqueline teve apoio em casa, na família. Teve apoio para deixar fluir e
encontrar sua verdadeira essência, mas não sem enfrentar e quebrar traumas e barreiras.
O filme nos ensina ser necessário ver o outro despido de
preconceitos. Ele é bem construído, porque a história de vida de Jacque é
fabulosa. Não é apenas sobre uma mulher transexual, porque Jacque transcende os
temas, os rótulos, ao menos foi dessa maneira que me senti ao conhecer um pouco
de sua vida, de sua família. O filme é sobre uma pessoa e sua luta.
Ao final da exibição tivemos a honra de
ouvi-la, de dialogar com ela e com uma de suas irmãs, Gisele Rocha Côrtes que
veio a ser a primeira coordenadora de políticas para mulheres em Araraquara e
minha contemporânea de Unesp. Foi um prazer enorme vivenciar esse momento, mas
é preciso querer olhar para o outro, não apenas como um outro, mas como parte
de nós.