terça-feira, 28 de julho de 2015

Vivenciando o Dia Internacional da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha

Valquíria Tenório é professora universitária, 
socióloga e pesquisadora de cultura e 
história na temática etnicorracial, 
escreve neste espaço às terças.

“Guerreira, resistência, superação, persistência, incansável, linda, coragem” foram algumas palavras ditas sobre o que é ser mulher negra por elas próprias neste dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Afro Latino-Americana e Caribenha. Tal data foi estabelecida em 1992 no I Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas que ocorreu em Santo Domingo, na República Dominicana. 

Por diversas cidades do Brasil o dia 25 de julho tem sido celebrado como dia de debate da problemática e luta das mulheres negras e Araraquara recebeu, nos dias 24 e 25 de julho, o encerramento do Seminário: “Vozes negras femininas, Aqualtunes, Nzingas, Dandaras e Acotirenes soltam as suas vozes”. No Brasil o dia 25 de julho também é o Dia Nacional de Teresa de Benguela, líder do quilombo do Quariterê que existiu no século XVIII no Mato Grosso. 

O evento realizado em dois dias promoveu a discussão de diferentes temas dispostos em oficinas temáticas com a participação de mulheres de diversas cidades do país. No dia 24 ocorreu a abertura com a presença do Prefeito e Presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Araraquara, representante do Fórum Nacional de Mulheres Negras e do Conselho de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra do Estado de São Paulo, lideranças do movimento negro, ativistas, professores, pesquisadores e interessados pelo tema no Auditório da Biblioteca Municipal Mário de Andrade. Nesse momento pudemos ouvir a palestrante e representante do Coletivo de Mulheres Negras do Mato Grosso do Sul, Ana José Alves, que trouxe um relato do trabalho realizado por 24 cidades nas cinco regiões do Brasil. Um relato rico sobre a situação das mulheres negras pelo Brasil afora. Tivemos a oportunidade de assistir documentário do Projeto Memória - Lélia Gonzalez: o feminino negro no palco da história. Lélia Gonzalez foi uma importante professora, pesquisadora, antropóloga e ativista política. Figura extremamente importante para se pensar o movimento negro brasileiro.

A realização desse evento em Araraquara se deve à articulação da coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Araraquara, Alessandra de Cássia Laurindo, que ainda promoveu no dia 24 uma homenagem a diversas mulheres negras araraquarenses pelo destaque em suas atividades, liderança e enfrentamento ao racismo. No dia 25 de julho na sede do Centro Afro, durante todo o dia aconteceram as oficinas temáticas e palestra de encerramento.

Se vocês notaram esse texto está repleto de menções a figuras femininas. Muitas delas pouco ouvimos ou nada ouvimos falar, não é mesmo? Quem seriam Aqualtune, Nzinga, Dandara e Acotirene. Pesquisem sobre elas que vão se surpreender. Aqualtune, por exemplo, foi uma princesa e guerreira africana, avó de Zumbi dos Palmares. Os registros históricos têm invisibilizado muitas figuras, principalmente, quando elas são mulheres e negras. Por isso, demarcarmos e celebrarmos uma data como o 25 de julho é uma maneira de trazer à tona a existência, a garra, a luta de muitas que promoveram o combate ao racismo antes de nós. 

Ficou muito evidente, durante minha participação no evento, a necessidade de termos referência, de reconhecermos na experiência de outras mulheres um caminho para prosseguir. É sempre bom termos um ponto de partida, termos um caminho mapeado. Algumas mulheres fazem seu enfretamento ao racismo e à invisibilização pela educação, pela cultura, outras pela política, pela saúde, pelo esporte, pela religião, ou seja, são múltiplos os caminhos, as maneiras, os pontos de partida, os lugares onde podemos promover mudanças e construir nossas redes.

Podemos partir de nós mesmas: relatando o que sentimos, denunciando o que sofremos e não aceitando a invisibilização de nossas histórias.