terça-feira, 10 de novembro de 2015

Por mais representatividade feminina.

Valquíria Tenório é professora universitária,
socióloga e pesquisadora de cultura e
história na temática etnicorracial,
escreve neste espaço às terças

Nada mais oportuno do que falar sobre as mulheres essa semana. O mês de novembro começou com a campanha [#AgoraÉQueSãoElas] em que homens de diversos meios de comunicação cederam espaço para que mulheres escrevessem em seu lugar e trouxessem a perspectiva feminina sobre diversos temas importantes, trazendo no bojo a exclusão que nós mulheres vivenciamos, cotidianamente, dos espaços de discussão, decisão e poder. Uma mulher ocupa o mais alto posto de nossa nação, porém todo o resto continua sendo conduzido pela ótica masculina, machista. 

Na minha vida as referências femininas sempre foram as mais importantes, figuras intensas, fortes, mantenedoras de minha existência. A começar pela minha mãe, mulher firme, íntegra, constante. Ela sempre me inspirou a estudar, a vencer as dificuldades, os medos, a enfrentar os desafios. Nela bebo sabedoria inesgotável, vivenciada, adquirida em sua trajetória dura e digna. Já amava essa grande mulher antes, mas depois que me tornei mãe, passei a amá-la ainda mais. Como é difícil criar um filho e ela me ensina sempre a cuidar do meu. 

São tantas as preocupações de como podemos educar bem, dos males que gostaríamos de evitar, das dores que queremos tirar com um colo, um abraço, uma palavra certa. Sinto-me ainda tão aprendiz desse papel, o maior de todos, com certeza! Tento passar algo bom para o meu filho, principalmente, o respeito às mulheres, às pessoas, ao planeta. Pode parecer um ideal nesse mundo tão repleto de angústias, desrespeito, insanidades diversas, mas acredito que devemos combater o machismo, racismo, sexismo desde cedo. Precisamos estar atentos ao que falamos, mas também e muito ao que fazemos e reproduzimos sem perceber, pois temos o mundo ao nosso redor. Impossível construir uma redoma, mas é razoável que busquemos rever nossos pensamentos, conhecimentos e buscar oferecer bases sólidas aos nossos filhos, bases fincadas no respeito a si próprio, aos demais e atento sempre à pluralidade. 

Não é tarefa fácil, pois o mundo está aí repleto de atrocidades, irracionalidades. É preciso também que atuemos na mudança à nossa volta, com pequenos atos, com atitudes, com palavras, com posturas diferentes, com observação e denúncia. Será que devemos esperar que nossos filhos sejam um futuro transformador ou podemos iniciar a mudança antes disso? 

Fico pensando sobre essa força feminina que sempre moveu minha vida e desejando que mais e muitas mulheres possam exercitar essa força, essa vibração e tomar posições de decisão, das altas decisões, pois a sensibilidade feminina precisa de espaços. Temos muito a dizer, a propor, a ensinar, a imprimir nossa marca. Queremos ser, mas precisamos estar juntas em grande número. A representatividade das mulheres no Brasil precisa mudar em diversos níveis da sociedade. Já somos maioria em muitos lugares, mas ainda nos falta reconhecimento igual. Nos falta quebrar com uma tradição toda masculina e construir o nosso espaço, por exemplo, no cenário político. Segundo a União Interparlamentar (UIP) com sede em Genebra, o Brasil ocupa a 116ª posição em um ranking de representatividade feminina no Legislativo numa lista de 190 países. Precisamos romper com os preconceitos e estereótipos frutos de uma sociedade machista que impedem o sucesso das mulheres na política brasileira, atuam minando nosso potencial e tirando de cena talentos que podem trazer algo novo, poderíamos ter um Congresso Nacional no mínimo diferente do que temos hoje em dia, com mulheres comprometidas.

Na última semana eu tive o prazer de participar de um evento em que toda a mesa era composta por mulheres professoras doutoras e em sua maioria negras. Pude ouvir mulheres falando sobre educação infantil no VII COPEDI – Congresso Paulista de Educação Infantil e o III Simpósio Internacional de Educação Infantil ocorrido na UFSCAr entre os dias 04 a 07 de novembro. Uma professora destacou ser um privilégio ter uma mesa assim. Queria mais vezes esse momento, que ele não seja privilégio, mas sim uma realidade nessa e em outras situações na nossa sociedade.