terça-feira, 8 de março de 2016

Dia Internacional da Mulher


Valquíria Tenório é professora universitária, socióloga e pesquisadora de cultura e história na temática etnicorracial.


            Hoje, dia 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Como diversas datas comemorativas, essa, busca propiciar reflexão sobre as condições de vida da mulher no Brasil e no mundo. A data tem relação com diversas manifestações de mulheres por condições mais dignas no mundo do trabalho, pela luta por direitos iguais no início do século XX. Em 1975, foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
            É importante propiciarmos uma constante e necessária releitura do papel da mulher à luz de reflexões feitas por nós mesmas, em diferentes períodos históricos. É importante que tenhamos condições de dizer quem somos, o que queremos, nos livrando de naturalizações, estranhando aquelas situações e pessoas que nos aprisionam e tentam retirar nossa capacidade de ser, de querer, de viver, de agir. 
            Eu descendo de mulheres responsáveis pela manutenção da família, responsáveis pela criação dos laços de unidade entre as pessoas, sejam elas irmãos, tios, sobrinhos, netos. Ser mulher pra mim sempre significou ser capaz de lidar com esses laços, conduzir a família, ser forte, valente, audaciosa, ter coragem e talento para viver e ajudar as demais pessoas viverem. Sempre significou ser capaz de fazer e desfazer elos, crises, lidar com dificuldades, infortúnios, mas também saber organizar e propiciar a paz.
            Talvez, essa visão de ser mulher seja fruto de uma mulher que sempre foi meu exemplo: minha mãe, Josenita. Sempre vi e vejo nela a capacidade ímpar de resolver qualquer problema, lidar com qualquer situação, ser forte, decidida, guerreira, trabalhadora, mulher que sempre foi à luta, que sempre buscou ser dona de seus caminhos, não se intimidando com as intempéries e adversidades, não se rebaixando às dificuldades sempre postas a todas as mulheres, principalmente, aquelas que não se conformam com o lugar de subalternidade e submissão imposto pelos homens, entre eles os bem conhecidos e familiares.     
            Essa semana um amigo postou em minha página em rede social matéria sobre Antonieta de Barros, mulher, negra, nascida em Florianópolis, Santa Catarina, em 11 de julho de 1901 e falecida em 1952. Já conhecia um pouco sobre ela, mas a lembrança de seu nome chegou em um excelente momento. Principalmente, porque ao pesquisar sobre o Dia Internacional da Mulher não encontrei, ao menos nos artigos que pesquisei na internet, menção ao seu nome e sua importância na vida política e na luta das mulheres para a conquista de direitos no Brasil.
            Antonieta de Barros era de família pobre, mãe empregada doméstica, ex-escravizada. Ela foi eleita em 1934, sendo a primeira deputada mulher de Santa Catarina e a primeira parlamentar negra do país. Fundou o “Curso Particular Antonieta de Barros”, escola para alfabetização da população carente, teve atuação como professora, diretora, fundou o jornal a Semana, escreveu artigos nele e em outros jornais, com artigos que tocavam temas como preconceito racial, desmandos na política, educação, temas ainda tão atuais para todas nós. Antonieta atuou na Constituinte em 1935 lutando pela valorização do magistério e merece ser conhecida e ter seu nome no registro histórico das lutas e conquistas das mulheres brasileiras.
            O Dia Internacional da Mulher deve ser um dia para renovarmos nosso compromisso de atuação para a igualdade de gênero, para o empoderamento das mulheres, para lembrarmos a atuação de Josenitas, Antonietas e tantas outras mulheres que souberam lançar-se à frente de seu tempo, que criaram as condições para superação das dificuldades, que são protagonistas de suas histórias e, diariamente, nos ensinam que ser mulher não é ser menos, mas é lutar, constantemente, para ser ouvida, para ter espaço e poder.