Valquíria Tenório é professora
universitária, socióloga e pesquisadora de cultura e história na temática
etnicorracial.
Hoje, dia 8
de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Como diversas datas
comemorativas, essa, busca propiciar reflexão sobre as condições de vida da
mulher no Brasil e no mundo. A data tem relação com diversas manifestações de
mulheres por condições mais dignas no mundo do trabalho, pela luta por direitos
iguais no início do século XX. Em 1975, foi oficializada pela Organização das
Nações Unidas (ONU).
É
importante propiciarmos uma constante e necessária releitura do papel da mulher
à luz de reflexões feitas por nós mesmas, em diferentes períodos históricos. É
importante que tenhamos condições de dizer quem somos, o que queremos, nos
livrando de naturalizações, estranhando aquelas situações e pessoas que nos
aprisionam e tentam retirar nossa capacidade de ser, de querer, de viver, de agir.
Eu descendo
de mulheres responsáveis pela manutenção da família, responsáveis pela criação
dos laços de unidade entre as pessoas, sejam elas irmãos, tios, sobrinhos,
netos. Ser mulher pra mim sempre significou ser capaz de lidar com esses laços,
conduzir a família, ser forte, valente, audaciosa, ter coragem e talento para
viver e ajudar as demais pessoas viverem. Sempre significou ser capaz de fazer
e desfazer elos, crises, lidar com dificuldades, infortúnios, mas também saber
organizar e propiciar a paz.
Talvez,
essa visão de ser mulher seja fruto de uma mulher que sempre foi meu exemplo: minha
mãe, Josenita. Sempre vi e vejo nela a capacidade ímpar de resolver qualquer
problema, lidar com qualquer situação, ser forte, decidida, guerreira,
trabalhadora, mulher que sempre foi à luta, que sempre buscou ser dona de seus
caminhos, não se intimidando com as intempéries e adversidades, não se
rebaixando às dificuldades sempre postas a todas as mulheres, principalmente,
aquelas que não se conformam com o lugar de subalternidade e submissão imposto
pelos homens, entre eles os bem conhecidos e familiares.
Essa
semana um amigo postou em minha página em rede social matéria sobre Antonieta
de Barros, mulher, negra, nascida em Florianópolis, Santa Catarina, em 11 de
julho de 1901 e falecida em 1952. Já conhecia um pouco sobre ela, mas a lembrança
de seu nome chegou em um excelente momento. Principalmente, porque ao pesquisar
sobre o Dia Internacional da Mulher não encontrei, ao menos nos artigos que
pesquisei na internet, menção ao seu nome e sua importância na vida política e
na luta das mulheres para a conquista de direitos no Brasil.
Antonieta
de Barros era de família pobre, mãe empregada doméstica, ex-escravizada. Ela
foi eleita em 1934, sendo a primeira deputada mulher de Santa Catarina e a
primeira parlamentar negra do país. Fundou o “Curso Particular Antonieta de
Barros”, escola para alfabetização da população carente, teve atuação como
professora, diretora, fundou o jornal a Semana, escreveu artigos nele e em
outros jornais, com artigos que tocavam temas como preconceito racial,
desmandos na política, educação, temas ainda tão atuais para todas nós.
Antonieta atuou na Constituinte em 1935 lutando pela valorização do magistério
e merece ser conhecida e ter seu nome no registro histórico das lutas e conquistas
das mulheres brasileiras.
O Dia Internacional da Mulher deve ser um dia para
renovarmos nosso compromisso de atuação para a igualdade de gênero, para o
empoderamento das mulheres, para lembrarmos a atuação de Josenitas, Antonietas
e tantas outras mulheres que souberam lançar-se à frente de seu tempo, que
criaram as condições para superação das dificuldades, que são protagonistas de
suas histórias e, diariamente, nos ensinam que ser mulher não é ser menos, mas
é lutar, constantemente, para ser ouvida, para ter espaço e poder.