Valquíria Tenório é professora
universitária, socióloga e pesquisadora de cultura e história na temática
etnicorracial.
Escrevo esse
artigo antes do resultado da votação do Impeachment do dia 17 de abril, um
domingo em que o Congresso trabalhou com afinco pouco visto. O Brasil está
parado, não os brasileiros, esses, de um lado ou de outro, se movimentam. Há
que ponto chegamos! De tamanha confusão, paixão, caos, dissonância. Vou usar a
expressão de uma grande amiga refletindo sobre o momento que estamos vivendo,
ela disse estar anêmica. Realmente, o Brasil também parece estar, pois carece
de energia, nutrientes, força e vitalidade para voltar a se movimentar.
O que me
anima é que nós continuamos nos movimentando, buscando construir alternativas,
discutindo, debatendo. Nós não estamos paralisados, nós lutamos, resistimos e
buscamos aprender e ensinar. Na semana passada, de 11 a 15 de abril, realizamos
no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP),
campus Matão, a II Semana da Diversidade: conhecer é promover a igualdade.
Foram cinco dias de atividades variadas, levando-se em consideração justamente
a temática da semana. Preciso compartilhar com vocês o que vivenciamos,
principalmente diante de tudo o que o Brasil tem vivido ultimamente, é
importante que saibamos que a diversidade é um tema que precisa ser discutido,
trabalhando, debatido.
A abertura do evento ocorreu na segunda-feira
dia 11, e teve a palestra “Diversidade e construção de conhecimentos” proferida
pela professora Dra. Elisângela de Jesus Santos, do CEFET-RJ, uma oradora
fabulosa, didática, intensa, que expôs de maneira muito evidente o conceito de
diversidade, as tensões e conflitos que ele enseja.
No dia
posterior, tivemos a Oficina de Isogravura e a questão indígena, conduzida
pelas professoras doutoras, Dulcelaine Lopes Nishikawa, Géssica Trevisan Pera e
Angela Cristina Ribeiro Caires, pesquisadoras da Fundação Araporã de
Araraquara. Foi uma tarde riquíssima em que os(as) estudantes puderam aprender
sobre diversos grupos étnicos indígenas, muitos deles(as) haviam me perguntado
se ainda existiam índios no Brasil, ficaram sabendo que sim e mais, que São
Paulo também tem população indígena.
Na quarta,
tivemos a atividade - Roda de Conversa: Mulher Negra e Representatividade, com
duas personalidades de nossa cidade, Alessandra de Cássia Laurindo,
vice-presidente do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da
Comunidade Negra – CPDCN, atual Secretária Municipal de Direitos Humanos e
Participação Popular e Maria Fernanda Luiz, mestre em Educação, vencedora do 7º Prêmio Educar para a Igualdade Racial e de
Gênero do CEERT por seu trabalho da construção de uma visão mais
realista do continente africano em sala de aula. Ambas são mulheres que fazem a
diferença em nossa cidade. Foi uma oportunidade incrível para os(as) estudantes
e toda a comunidade do IFSP ouvi-las e aprofundar o tema da mulher negra.
Na quinta,
Ana Cristina Gandini Salto licenciada em Psicologia pela PUC Campinas e
discente de Direito do IMMES em Matão, participou do evento relatando um pouco
a experiência de ter a síndrome de Apert, ainda pouco conhecida, relatou os
desafios e a superação das dificuldades. Ana não falou apenas da síndrome,
falou sobre como deve ser o tratamento e referência a uma pessoa com algum tipo
de deficiência, falou das novas designações e termos; falou, fundamentalmente,
de respeito, de empatia e que devemos seguir lutando e vivendo um dia de cada vez.
Já o último
dia do evento trouxe a discussão de gênero a partir da apresentação do filme
“Hoje eu quero voltar sozinho” e posterior debate com a professora Andresa Ferreira
Galvão Paes, especialista em Ensino de Filosofia e Cinema pela UFSCar. Foi muito estimulante para
os(as) discentes e a discussão seguiu acalorada, rompendo estereótipos e
preconceitos. Ficamos com a impressão final do quanto a educação e a juventude
podem contribuir não apenas para a criação de uma visão mais plural da
sociedade em que vivemos como podem ser capazes de atuar para a concretização
desse ideal.
Encerramos
a II Semana da Diversidade ampliando o tema e trazendo a cultura, com a
apresentação especial do Grupo Vocal Coro e Osso, que aos 25 anos de vida e
canto, encantou a todos os presentes, encerrando com muito brilho nossa
atividade, afinal o que pode ser mais diverso do que o canto coral, com suas
multiplicidades de pessoas, idades, vozes, tons? Interessante notar que percebemos
as diferentes vozes e elas se complementam, se harmonizam, será que é possível
termos isso em nossa vida? Finalizamos o evento com leveza necessária sempre,
mas também nos abastecemos de energia no vibrar das vozes e nos debates
promovidos durante toda a semana.