terça-feira, 19 de abril de 2016

II Semana da Diversidade do IFSP, campus Matão


Valquíria Tenório é professora universitária, socióloga e pesquisadora de cultura e história na temática etnicorracial.


            Escrevo esse artigo antes do resultado da votação do Impeachment do dia 17 de abril, um domingo em que o Congresso trabalhou com afinco pouco visto. O Brasil está parado, não os brasileiros, esses, de um lado ou de outro, se movimentam. Há que ponto chegamos! De tamanha confusão, paixão, caos, dissonância. Vou usar a expressão de uma grande amiga refletindo sobre o momento que estamos vivendo, ela disse estar anêmica. Realmente, o Brasil também parece estar, pois carece de energia, nutrientes, força e vitalidade para voltar a se movimentar.
            O que me anima é que nós continuamos nos movimentando, buscando construir alternativas, discutindo, debatendo. Nós não estamos paralisados, nós lutamos, resistimos e buscamos aprender e ensinar. Na semana passada, de 11 a 15 de abril, realizamos no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), campus Matão, a II Semana da Diversidade: conhecer é promover a igualdade. Foram cinco dias de atividades variadas, levando-se em consideração justamente a temática da semana. Preciso compartilhar com vocês o que vivenciamos, principalmente diante de tudo o que o Brasil tem vivido ultimamente, é importante que saibamos que a diversidade é um tema que precisa ser discutido, trabalhando, debatido.
             A abertura do evento ocorreu na segunda-feira dia 11, e teve a palestra “Diversidade e construção de conhecimentos” proferida pela professora Dra. Elisângela de Jesus Santos, do CEFET-RJ, uma oradora fabulosa, didática, intensa, que expôs de maneira muito evidente o conceito de diversidade, as tensões e conflitos que ele enseja.
            No dia posterior, tivemos a Oficina de Isogravura e a questão indígena, conduzida pelas professoras doutoras, Dulcelaine Lopes Nishikawa, Géssica Trevisan Pera e Angela Cristina Ribeiro Caires, pesquisadoras da Fundação Araporã de Araraquara. Foi uma tarde riquíssima em que os(as) estudantes puderam aprender sobre diversos grupos étnicos indígenas, muitos deles(as) haviam me perguntado se ainda existiam índios no Brasil, ficaram sabendo que sim e mais, que São Paulo também tem população indígena.
            Na quarta, tivemos a atividade - Roda de Conversa: Mulher Negra e Representatividade, com duas personalidades de nossa cidade, Alessandra de Cássia Laurindo, vice-presidente do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra – CPDCN, atual Secretária Municipal de Direitos Humanos e Participação Popular e Maria Fernanda Luiz, mestre em Educação, vencedora do 7º Prêmio Educar para a Igualdade Racial e de Gênero do CEERT por seu trabalho da construção de uma visão mais realista do continente africano em sala de aula. Ambas são mulheres que fazem a diferença em nossa cidade. Foi uma oportunidade incrível para os(as) estudantes e toda a comunidade do IFSP ouvi-las e aprofundar o tema da mulher negra.
            Na quinta, Ana Cristina Gandini Salto licenciada em Psicologia pela PUC Campinas e discente de Direito do IMMES em Matão, participou do evento relatando um pouco a experiência de ter a síndrome de Apert, ainda pouco conhecida, relatou os desafios e a superação das dificuldades. Ana não falou apenas da síndrome, falou sobre como deve ser o tratamento e referência a uma pessoa com algum tipo de deficiência, falou das novas designações e termos; falou, fundamentalmente, de respeito, de empatia e que devemos seguir lutando e vivendo um dia de cada vez.
            Já o último dia do evento trouxe a discussão de gênero a partir da apresentação do filme “Hoje eu quero voltar sozinho” e posterior debate com a professora Andresa Ferreira Galvão Paes, especialista em Ensino de Filosofia e Cinema pela UFSCar. Foi muito estimulante para os(as) discentes e a discussão seguiu acalorada, rompendo estereótipos e preconceitos. Ficamos com a impressão final do quanto a educação e a juventude podem contribuir não apenas para a criação de uma visão mais plural da sociedade em que vivemos como podem ser capazes de atuar para a concretização desse ideal.

            Encerramos a II Semana da Diversidade ampliando o tema e trazendo a cultura, com a apresentação especial do Grupo Vocal Coro e Osso, que aos 25 anos de vida e canto, encantou a todos os presentes, encerrando com muito brilho nossa atividade, afinal o que pode ser mais diverso do que o canto coral, com suas multiplicidades de pessoas, idades, vozes, tons? Interessante notar que percebemos as diferentes vozes e elas se complementam, se harmonizam, será que é possível termos isso em nossa vida? Finalizamos o evento com leveza necessária sempre, mas também nos abastecemos de energia no vibrar das vozes e nos debates promovidos durante toda a semana.