terça-feira, 17 de maio de 2016

Refugiados no Brasil

Valquíria Tenório é professora, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura,  história e educação na temática etnicorracial.


            Na última terça-feira, dia 10 de maio, participei do III Seminário do IFSP sobre Diversidade Cultural e Educação – Migrações Internacionais e Direitos Humanos, promovido pela Pró-Reitoria de Extensão do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). O Seminário foi realizado na Biblioteca Mário de Andrade em São Paulo.
            Gostaria de compartilhar com vocês, pois foi um rico aprendizado. Na situação atual em que vivemos, de tantas incertezas é imprescindível estarmos sempre dispostos a aprender, a nos livrarmos da ignorância e superarmos as dificuldades e novos desafios que vão ser colocados a todos nós. Devo admitir que sabia muito pouco sobre o tema do seminário, ou seja, sabia pouco sobre os refugiados, principalmente, os refugiados no momento atual que estão chegando ao Brasil. Nunca tinha tido contato com essa realidade a não ser pelos noticiários. Por isso, foi muito importante estar nesse seminário.
            No período da manhã, foi realizada uma mesa com uma representante da ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidos para Refugiados) criada em 1950 com sede também no Brasil e a coordenadora executiva do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante da cidade de São Paulo. Duas apresentações excelentes sobre a situação dos refugiados no Brasil, sobre as dificuldades que enfrentam, sobre o número crescente de pessoas chegando ao país. Segundo a ACNUR em 2010 o Brasil recebeu 500 pessoas, já em 2015 esse número passou de 12 mil refugiados vindos de diversos países, Colômbia, Síria, Angola, Congo, Senegal, Nigéria e outros.
            A cidade de São Paulo, como uma grande capital, tem recebido muitos refugiados, pessoas que chegam no aeroporto internacional sem ao menos saber falar alguma palavra em português, pessoas traumatizadas pelas guerras, violência, fugindo da vida difícil em seus países, muitas vezes, sem documentos, outras deixando a própria família pelo caminho, não por desejo próprio, mas pelas circunstâncias duras em que se encontravam. Muitos têm formação universitária, profissão e chegam no Brasil, em uma nova cultura buscando um recomeço, porém repletos de incertezas.
            A ideia de se discutir o tema refugiados é válida para se pensar o acesso deles à educação brasileira, principalmente no que diz respeito à necessidade de compreender a situação particular que enfrentam essas pessoas que chegam sem os documentos que no Brasil são imprescindíveis para se viver e se movimentar e também sem a possibilidade de recorrer ao seu país de origem, às suas embaixadas, pois muitos deles são oposição aos regimes e situações lá vividas. Chegam ao Brasil atraídos pela ideia tão propagada que somos o país da harmonia, do acolhimento, mas em pouco tempo tomam contato com a realidade nua e crua do país e se ressentem pela escolha de aportar por aqui.
            A mesa de discussão do período da tarde do Seminário contou com pesquisadores, professores, mas, fundamentalmente, teve a presença de refugiados, falando de suas experiências por eles mesmos, falando de suas vidas, dificuldades, visões do Brasil, da falta de apoio, da invisibilidade, tocaram nas nossas feridas. Foi importante ouvi-los e saber de suas carências, mas também de suas lutas. O tema é tão atual. Há tantas pessoas morrendo ao deixar seus países, há tanta gente ficando pelo caminho, mas também eles nos revelaram que há muitos retornando, pois não conseguem se adaptar aos padrões brasileiros. Há muito preconceito, discriminação, xenofobia aqui também ainda mais nos tempos atuais de tanto recrudescimento e de retomada de um discurso e posturas conservadoras.
            Há refugiados que estão aqui há mais tempo que organizaram-se em associações de ajuda tanto para acolher os que chegam como para sensibilizar e apresentar a situação aos brasileiros. Fiquei me perguntando se existem refugiados, dessa nova fase, aqui pela nossa região e de que maneira podemos inserir esse tema em nossas aulas e vidas em relação direta com a necessidade de pensarmos também a existência de Direitos Humanos que superam as nacionalidades e fronteiras.