terça-feira, 12 de julho de 2016

Baile do Carmo e a história do negro em Araraquara

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

Essa semana a história e tradição da comunidade negra se repetem mais um ano em Araraquara, é semana do Baile do Carmo. Como não falar desse evento? Impossível, ao menos para alguém que se viu e ainda se vê envolvida por ele, mesmo que não para vivencia-lo, mas para vê-lo como um registro importante e um patrimônio histórico de Araraquara e do interior de São Paulo. Eu sei que já falei do Baile outras vezes nesta coluna, mas sempre há muito que relatar, relembrar.
O Baile do Carmo é música, dança, festa, é resistência, força, história e muito mais. Há muito tempo ele se tornou uma semana de atividades, tornou-se um evento complexo que busca enaltecer a cultura negra. Embalados pelo samba rock ou pelos boleros ao estilo de Ray Conniff são as pessoas reais que fazem o Baile do Carmo ser o que é. No passado, um evento esperado durante todo o ano, para se encontrar os conhecidos, para se fazer novas amizades, para se debutar, para ser parte, para se fazer frente à uma discriminação que existia na cidade e impedia a entrada de negros em bailes e clubes.
E hoje? Será que ele traz esses mesmos sentidos? O Baile a meu ver é um patrimônio da cidade que muitos negros e negras daqui e de outros lugares querem conhecer, porque mesmo sendo mais da metade da população brasileira, lutamos por representatividade, lutamos contra a invisibilização de nossa história ou histórias, porque somos diversos também, mas há algo em comum que nos une e não são apenas nossas características fenotípicas. Conversei com amigos pesquisadores de diversos lugares do mundo e vi muitas similaridades nos modos de ser, fazer, viver e sentir o mundo. Isso é muito forte!
O Baile do Carmo é prova do movimento dos negros, de suas lideranças do passado e do presente, de sonhos e realizações de homens e mulheres. É parte de uma história negra na cidade que deve ser investigada, trazida à tona, registrada, para que ela não se perca com a passagem daqueles que a vivenciam. São necessárias estratégias e uma política séria para o devido registro dessas histórias e posterior divulgação das mesmas.