Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática etnicorracial.
Essa
semana a história e tradição da comunidade negra se repetem mais um ano em
Araraquara, é semana do Baile do Carmo. Como não falar desse evento?
Impossível, ao menos para alguém que se viu e ainda se vê envolvida por ele,
mesmo que não para vivencia-lo, mas para vê-lo como um registro importante e um
patrimônio histórico de Araraquara e do interior de São Paulo. Eu sei que já falei
do Baile outras vezes nesta coluna, mas sempre há muito que relatar, relembrar.
O
Baile do Carmo é música, dança, festa, é resistência, força, história e muito
mais. Há muito tempo ele se tornou uma semana de atividades, tornou-se um evento
complexo que busca enaltecer a cultura negra. Embalados pelo samba rock ou pelos
boleros ao estilo de Ray Conniff são as pessoas reais que fazem o Baile do
Carmo ser o que é. No passado, um evento esperado durante todo o ano, para se
encontrar os conhecidos, para se fazer novas amizades, para se debutar, para ser
parte, para se fazer frente à uma discriminação que existia na cidade e impedia
a entrada de negros em bailes e clubes.
E
hoje? Será que ele traz esses mesmos sentidos? O Baile a meu ver é um
patrimônio da cidade que muitos negros e negras daqui e de outros lugares
querem conhecer, porque mesmo sendo mais da metade da população brasileira,
lutamos por representatividade, lutamos contra a invisibilização de nossa
história ou histórias, porque somos diversos também, mas há algo em comum que
nos une e não são apenas nossas características fenotípicas. Conversei com
amigos pesquisadores de diversos lugares do mundo e vi muitas similaridades nos
modos de ser, fazer, viver e sentir o mundo. Isso é muito forte!
O
Baile do Carmo é prova do movimento dos negros, de suas lideranças do passado e
do presente, de sonhos e realizações de homens e mulheres. É parte de uma
história negra na cidade que deve ser investigada, trazida à tona, registrada,
para que ela não se perca com a passagem daqueles que a vivenciam. São
necessárias estratégias e uma política séria para o devido registro dessas
histórias e posterior divulgação das mesmas.