Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática etnicorracial.
A
mobilização negra nos Estados Unidos é vigorosa, principalmente, devido a
maneira como o racismo se construiu no país, com leis e estratégias formais e
informais de segregação, com linchamentos, discriminação no emprego, educação,
serviços públicos, ou seja, a discriminação racial era bem definida e a luta
contra ela também. O movimento pelos Direitos Civis dos anos 1960 foi um marco
histórico no combate a essa realidade e na conquista de direitos. No entanto,
se a lei não permitia mais a exclusão e a segregação oficial, ela se refez e
permanece com outras roupagens, aparecendo de maneira corriqueira na violência
policial, nas estatísticas sobre prisioneiros e em outros dados que apontam a
desigualdade entre brancos e negros naquela sociedade. Situação muito similar
ao que vivemos no Brasil.
Devemos
todos lutar contra o racismo, contra a violência! Seja ela de que forma for,
quando e onde for. A violência contra a população negra parece ser uma
constante nos últimos séculos não apenas nos Estados Unidos e não parece
caminhar para um fim breve, infelizmente. Ela é uma expressão bastante estúpida
e eficaz do racismo.
O movimento “Black Lives Matter” propõe uma agenda para
pressionar o Estado, o poder público a repensar, a criar ações, medidas,
estratégias concretas contra a violência policial, contra o racismo, mas em
favor da vida, da humanidade, constante e historicamente negada aos negros.
Propõe uma unidade a partir de princípios fortes que extrapolam as fronteiras
de um único país. Por isso, quando ouvi uma das fundadoras, em entrevista a uma
rede de televisão brasileira, me senti conectada ao que ela dizia, à
necessidade de empatia, reflexão, diálogo e luta.