terça-feira, 19 de julho de 2016

Black Lives Matter – As vidas negras importam


Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

Esse é o nome de um movimento que está ganhando cada vez mais força e visibilidade nos Estados Unidos e fora dele. Surgiu em 2013, em protesto pela absolvição de um vigilante de bairro, no assassinato de Trayvon Martin, um jovem negro de 17 anos de idade. Tem se firmado após os assassinatos de Michael Brown em Ferguson e de Eric Garner em Nova York, cometidos pela polícia. Poderíamos traduzir por “As vidas negras importam” e dizer mais, esse é um movimento cujas origens estão muito mais distantes e se enraizaram na construção de muitas nações que receberam populações negras escravizadas, retiradas forçadamente de suas terras de origem.
A mobilização negra nos Estados Unidos é vigorosa, principalmente, devido a maneira como o racismo se construiu no país, com leis e estratégias formais e informais de segregação, com linchamentos, discriminação no emprego, educação, serviços públicos, ou seja, a discriminação racial era bem definida e a luta contra ela também. O movimento pelos Direitos Civis dos anos 1960 foi um marco histórico no combate a essa realidade e na conquista de direitos. No entanto, se a lei não permitia mais a exclusão e a segregação oficial, ela se refez e permanece com outras roupagens, aparecendo de maneira corriqueira na violência policial, nas estatísticas sobre prisioneiros e em outros dados que apontam a desigualdade entre brancos e negros naquela sociedade. Situação muito similar ao que vivemos no Brasil.   
Devemos todos lutar contra o racismo, contra a violência! Seja ela de que forma for, quando e onde for. A violência contra a população negra parece ser uma constante nos últimos séculos não apenas nos Estados Unidos e não parece caminhar para um fim breve, infelizmente. Ela é uma expressão bastante estúpida e eficaz do racismo.  
             O movimento “Black Lives Matter” propõe uma agenda para pressionar o Estado, o poder público a repensar, a criar ações, medidas, estratégias concretas contra a violência policial, contra o racismo, mas em favor da vida, da humanidade, constante e historicamente negada aos negros. Propõe uma unidade a partir de princípios fortes que extrapolam as fronteiras de um único país. Por isso, quando ouvi uma das fundadoras, em entrevista a uma rede de televisão brasileira, me senti conectada ao que ela dizia, à necessidade de empatia, reflexão, diálogo e luta.