Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática etnicorracial.
No
domingo passado dia 24 de julho perdi minha avó materna, Belmira Rodrigues
Barreto, 89 anos de história, solidez, bravura e força. Era uma mulher miúda,
de 15 filhos nascidos, 12 ainda vivos. Era nordestina, pernambucana de
nascença, mas que nos anos 1970 veio para São Paulo como muitos e muitos
nordestinos em busca de oportunidades e vida melhor.
Sabia
ser doce e também firme na condução de sua família. Era, com certeza, a
matriarca! Nada mais apropriado do que falar dela essa semana, não apenas
porque sua passagem me trouxe tantas lembranças, tantos sentimentos, mas porque
ontem dia 25 de julho comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino
Americana e Caribenha, dia instituído em 1992 a partir de definição do 1º
Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em
Santo Domingo, na República Dominicana.
É
fundamental, pensar que existe sim uma conexão muito forte entre todas nós,
desde a opressão que sofremos e a invisibilização de nossas histórias até
nossas estratégias de resistência e de vida.
Tenho
discutido sobremaneira a invisibilidade da população negra nas histórias
oficiais e vale muito destacar a invisibilidade da mulher negra, onde está o
registro de seu protagonismo, suas vidas, suas lutas? Lembrando de minha avó
precisaria refletir também sobre o registro na história de São Paulo da mulher
nordestina, pois essa era a identidade que nunca se desvencilhou dela, e que
ela assumia.
Escrevo
hoje, tendo essas reflexões em mente. Pensando que o nome de minha avó, pode
nunca estar no álbum da história da cidade, pode não virar nome de rua, praça,
prédio, mas ficará para sempre na minha memória e se eternizará nessas poucas
linhas.
Perder alguém tão próxima, tão querida, que teceu parte
de nossa história, nos faz sentir a finitude, nos faz pensar na vida, no quanto
ela é tênue, o quanto a imprevisibilidade da nossa existência é algo concreto.
Nos faz sentir que viver bem deve ser sempre uma urgência. É uma pena que o
passar do tempo, muitas vezes, nos aprisiona nas angústias do viver e
esquecemos que a nossa existência merece ser homenageada sempre.