terça-feira, 26 de julho de 2016

Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha


Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

No domingo passado dia 24 de julho perdi minha avó materna, Belmira Rodrigues Barreto, 89 anos de história, solidez, bravura e força. Era uma mulher miúda, de 15 filhos nascidos, 12 ainda vivos. Era nordestina, pernambucana de nascença, mas que nos anos 1970 veio para São Paulo como muitos e muitos nordestinos em busca de oportunidades e vida melhor.
Sabia ser doce e também firme na condução de sua família. Era, com certeza, a matriarca! Nada mais apropriado do que falar dela essa semana, não apenas porque sua passagem me trouxe tantas lembranças, tantos sentimentos, mas porque ontem dia 25 de julho comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, dia instituído em 1992 a partir de definição do 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas realizado em Santo Domingo, na República Dominicana.
É fundamental, pensar que existe sim uma conexão muito forte entre todas nós, desde a opressão que sofremos e a invisibilização de nossas histórias até nossas estratégias de resistência e de vida.
Tenho discutido sobremaneira a invisibilidade da população negra nas histórias oficiais e vale muito destacar a invisibilidade da mulher negra, onde está o registro de seu protagonismo, suas vidas, suas lutas? Lembrando de minha avó precisaria refletir também sobre o registro na história de São Paulo da mulher nordestina, pois essa era a identidade que nunca se desvencilhou dela, e que ela assumia.
Escrevo hoje, tendo essas reflexões em mente. Pensando que o nome de minha avó, pode nunca estar no álbum da história da cidade, pode não virar nome de rua, praça, prédio, mas ficará para sempre na minha memória e se eternizará nessas poucas linhas. 
Perder alguém tão próxima, tão querida, que teceu parte de nossa história, nos faz sentir a finitude, nos faz pensar na vida, no quanto ela é tênue, o quanto a imprevisibilidade da nossa existência é algo concreto. Nos faz sentir que viver bem deve ser sempre uma urgência. É uma pena que o passar do tempo, muitas vezes, nos aprisiona nas angústias do viver e esquecemos que a nossa existência merece ser homenageada sempre.