terça-feira, 2 de agosto de 2016

Homenagem às mulheres negras em Araraquara

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

Emoção, lágrimas de alegria, reconhecimento, representatividade, empatia, responsabilidade, quantas palavras para descrever a última sexta-feira dia 30 de julho. Dez mulheres de Araraquara receberam o Prêmio Dra. Rita de Cássia Ferreira Correa, uma mulher negra, advogada, atuante, repleta de ideias e forças para se combater a discriminação, presidente da Comissão da Igualdade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) subseção de Araraquara. Dra. Rita nos deixou muito precocemente. A notícia de seu falecimento nos deixou estarrecidos. Na verdade, ela seria uma das homenageadas pelo Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha outorga feita pelo terceiro ano consecutivo pela Coordenadoria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, na pessoa de sua coordenadora Alessandra de Cássia Laurindo. Nada mais apropriado e merecido que reverenciar à Dra. Rita e transformar a homenagem em prêmio com seu nome.
A existência de uma premiação para mulheres em Araraquara em consonância com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha propõe uma conexão ampla entre nós, afirma que as fronteiras físicas existentes não nos separam de fato, propõe ultrapassarmos nossas diferenças linguísticas, culturais, temporais, porque em algum momento construímos experiências similares que permitem nos reconhecermos, nos sentirmos unidas. É bem verdade que é preciso vibrar na mesma frequência e deixar o som se propagar de nossas vozes pelos lugares, espaços, tempos. Com certeza, as mulheres homenageadas nessa noite têm vozes diferentes, mas vibram por algo comum.
Eu fui umas das homenageadas e foi uma honra dividir o prêmio com as demais mulheres. Cada uma com histórias e posturas em diversos pontos similares e em outros diferentes, mas nos sentimos conectadas. Gostei muito de uma expressão que umas das homenageadas, Valesca Mendonça, utilizou no vídeo apresentado no evento que ocorreu no Palacete das Rosas, nem todas as mulheres estão na linha de frente dos movimentos sociais, participando das manifestações, indo para as ruas, algumas cuidam do que ela chamou de semeadura do que pode ser colhido no futuro: ideias, estratégias, sentimentos, projetos, textos, referências. Cada uma atua com as ferramentas que dispõe, de acordo com seu perfil. Destaco também que há muitas maneiras de nos movimentarmos em prol de um bem comum, os movimentos sociais estão muito mudados hoje em dia, são diversos.
             Para mim o importante e essencial é nunca deixar de semear, de plantar para conseguir colher bons frutos.