terça-feira, 30 de agosto de 2016

O tempo que voa e nos ensina a viver

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

Na última sexta-feira meu filho completou 5 anos de vida. Como o tempo voa, parece que foi ontem que ele nascia. Como tem sido um desafio constante ensinar alguém a viver no mundo. Um desafio de aprender também com ele como ser mãe. As crianças são especiais, têm ainda aquele olhar atento para o mundo exterior, tudo é motivo de curiosidade, se encantam com situações que nós adultos já estamos por demais familiarizados e deixamos de viver, de nos importar, ou ainda, levamos uma vida tão corrida que não temos tido tempo de parar e observar o mundo ao nosso redor.
Quanto tempo faz que você não olha para o céu e fica procurando nas nuvens imagens de bichos e coisas? É bom tentarmos trazer as coisas simples da vida para o nosso olhar. Que tal sentir o frescor do vento, rememorar uma lembrança antiga, fazer bolha de sabão, sentar no chão, brincar e ouvir uma história. Coisas simples, leves, que podem trazer doçura para a nossa vida, podem trazer mais delicadeza e paz.
Eu sei que o mundo está pegando fogo, a situação é dura, tensa, mas precisamos buscar energia em algo para nos mantermos ativos, atentos, sem temer as agruras que ainda virão. Eu sempre falo de construirmos redes, de termos o apoio de mais pessoas ao nosso redor. Quando penso em criação de um filho não consigo visualizar de outra maneira. É necessário que tenhamos essas redes, familiares, amigos, pessoas que se envolvam e nos envolvam nesse ato tão profundo de apresentar o mundo a um outro ser.
        Tenho tentado construir esses laços, fundamentais para tudo na vida, afinal o ser humano não quer ser sozinho, mas que mundo devemos apresentar aos nossos filhos? O que ensinar? Como ensinar? Como não reproduzir situações e ações que só têm servido para alimentar o machismo, o racismo? Eu me faço sempre essas perguntas, me preocupo demais em passar a existência de uma pluralidade no mundo, da diversidade de pessoas, ideias, olhares, verdades. Me preocupo em ser exemplo, às vezes, me angustio, reflito o tempo todo, porque desejo o melhor para o meu filho, e o melhor não pode ser apenas para ele, mas para todos que ele vier a ter contato, a se relacionar, desejo que ele seja uma boa pessoa, feliz, e que tenha empatia pelo outro sempre.