terça-feira, 6 de setembro de 2016

Rompendo com a história única

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

No último sábado dia 03 de setembro estive envolvida em mais uma aula do curso de formação “História e Cultura Africana e Afrobrasileira” realizada no IFSP, campus Matão. São tantos os debates, as questões e discussões levantadas. O tema dessa aula foi bem amplo, a descolonização do continente africano, afrorrealismo e foi conduzida por um historiador convidado para tal atividade, o professor Marcelo Terence, tão mestre na área de entender os registros historiográficos e o quanto a história não pode ser única e por uma antropóloga, a professora Michelle Cirne Ilges, amiga estimada que fez a gentileza de estar conosco nessa aula, além de minha participação enquanto professora e pesquisadora de sociologia. Menciono isso, porque os(as) cursistas tiveram a oportunidade de contar com visões diferentes, mas em consonância e o clima do curso ganha muito com essa diversidade.
Não é possível tratar toda essa temática em uma aula ou duas, mesmo que sejam muitas as horas, eu já sabia disso, mas conseguimos trabalhar com o tempo que tivemos e aprendemos muito juntos, porque havia muito interesse, disposição e organização dos palestrantes. Confirmei nessa aula a ideia do curso: a sensibilização para a necessidade de revermos nossas ideias, nossos planos de aula, nosso conhecimento ou o que não conhecemos e quais seriam as razões para isso. Sementes foram plantadas.
Outra tônica ou máxima do curso seria: cuidado com as generalizações, principalmente, quando somos professores e quando estamos falando de um continente tão diverso, tão plural quanto o africano e, mais, tão intensamente menosprezado, tão intensamente cercado por uma ideia de ser único, inferior, repleto de problemas, pobre, carente de soluções, de ajuda, amparo, tão vilipendiado por uma estruturação capitalista do mundo. É preciso romper essa visão, e para isso é necessário contato com visões mais amplas, também visões de dentro, daqueles que protagonizam a realidade no continente e podem nos contar suas próprias histórias a partir de um olhar endógeno.
Por isso, é de extrema importância termos acesso a pesquisas que nos ofereçam essas visões, que nos ofereçam temáticas pouco discutidas, pesquisas existentes, mas pouco visibilizadas. É preciso que as teses não fiquem restritas aos muros e às bibliotecas das universidades, elas precisam ganhar as ruas, chegar nas pessoas para trazer ideias novas, conhecimentos, vozes, olhares. Dessa maneira, a participação da professora Michelle Cirnes Ilges foi tão importante, pois trouxe uma contribuição vigorosa para o exercício que iniciamos em nosso curso. Ela falou para nós sobre sua pesquisa de doutorado em Antropologia Social “realizada sobre a produção contemporânea de ciências sociais feita pelos intelectuais africanos, tendo como universo de estudo e ponto de partida a agência do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais em África – CODESRIA – uma instituição de caráter pan-africano fundada em 1973 com sede em Dakar, no Senegal.”
      Foi uma rica apresentação de autores estudados, debatidos, temas tratados, referências que nos deixaram com mais vontade de conhecer e cientes que estamos apenas no começo.