Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática etnicorracial.
Ando incomodada com algumas coisas, principalmente, com
discursos sobre a área da Educação, sobre o papel do(a) professor(a).
Sinceramente, como professora posso dizer: deveríamos ser mais valorizados(as),
temos um papel crucial, fundamental para o desenvolvimento da sociedade.
Necessitamos de apoio, necessitamos de formação contínua, necessitamos de tempo
para elaborarmos com tranquilidade nossas aulas, necessitamos de material, de
bons equipamentos e de pessoal capacitado para nos auxiliar a lidar com eles,
necessitamos de ajuda, porque lidar com a vida de dezenas, centenas, milhares
de outras pessoas é função que, muitas vezes, desgasta. Lidar com as
particularidades de nossos(as) alunos(as), entende-las, saber ter a palavra
certa na hora certa, estar atento ao que passam, tudo isso demanda tempo e
sensibilidade. Você pode dizer, mas esse não é o papel do professor? Sim e não!
Para que o processo de aprendizagem possa acontecer muitas variáveis estão em
jogo. Saber lidar com a heterogeneidade do nosso público é um talento que
podemos e devemos aprender, afinal não nascemos com ele.
Eu tenho aprendido muito esse último ano. Tenho me
frustrado também e muito. Porque há dia que você elabora uma aula e parece
estar tudo certo, mas quando a coloca em prática nada ou pouco funciona. Você
busca usar os recursos inteligíveis pelos jovens, busca vídeos, músicas da
geração deles, você consegue ter a atenção e a participação de alguns, mas
outros não demonstram interesse. Será que somos nós que não reconhecemos o que
seja interesse? Será que a preparação da aula deve ser diferente? Incluir ainda
mais a tecnologia? Será que o uso de tecnologia garante a atenção deles? Eles
realmente são uma geração da tecnologia? Qual? Fazer uma pesquisa na internet
sobre algum tema é algo ainda em construção para muitos deles. Trabalho em
grupo uma aventura. Interpretação de música uma maratona.
Pode
parecer desanimador e, algumas vezes, é mesmo. Por isso, ter tempo é necessário
para o professor digerir algumas questões. Repensar sua prática. Estar bem. Parece
também ser necessário entender, saber que tipo de educação nossos alunos
tiveram até o momento que chegaram em nossas salas, precisamos estar cientes de
que o processo de aprender é maior do que o conteúdo da disciplina. É
necessário descobrir o que os motiva, o que lhes é interessante, como passar a
mensagem, como ser compreensível, entender as limitações, as defasagens. Estou
em uma instituição em que discutimos muito, tenho muito orgulho da equipe em
que estou inserida. Dar aulas é um desafio constante, mas tal como viver é bom
também. Principalmente, quando você percebe que se tornou importante,
referência, quando conquistou a confiança de seus estudantes e aos poucos, de
maneiras diferentes, em tempos diferentes vai notando que eles estão aprendendo
e nota também que eles estão lhe ensinando.