terça-feira, 11 de outubro de 2016

Educar

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

Ando incomodada com algumas coisas, principalmente, com discursos sobre a área da Educação, sobre o papel do(a) professor(a). Sinceramente, como professora posso dizer: deveríamos ser mais valorizados(as), temos um papel crucial, fundamental para o desenvolvimento da sociedade. Necessitamos de apoio, necessitamos de formação contínua, necessitamos de tempo para elaborarmos com tranquilidade nossas aulas, necessitamos de material, de bons equipamentos e de pessoal capacitado para nos auxiliar a lidar com eles, necessitamos de ajuda, porque lidar com a vida de dezenas, centenas, milhares de outras pessoas é função que, muitas vezes, desgasta. Lidar com as particularidades de nossos(as) alunos(as), entende-las, saber ter a palavra certa na hora certa, estar atento ao que passam, tudo isso demanda tempo e sensibilidade. Você pode dizer, mas esse não é o papel do professor? Sim e não! Para que o processo de aprendizagem possa acontecer muitas variáveis estão em jogo. Saber lidar com a heterogeneidade do nosso público é um talento que podemos e devemos aprender, afinal não nascemos com ele.
Eu tenho aprendido muito esse último ano. Tenho me frustrado também e muito. Porque há dia que você elabora uma aula e parece estar tudo certo, mas quando a coloca em prática nada ou pouco funciona. Você busca usar os recursos inteligíveis pelos jovens, busca vídeos, músicas da geração deles, você consegue ter a atenção e a participação de alguns, mas outros não demonstram interesse. Será que somos nós que não reconhecemos o que seja interesse? Será que a preparação da aula deve ser diferente? Incluir ainda mais a tecnologia? Será que o uso de tecnologia garante a atenção deles? Eles realmente são uma geração da tecnologia? Qual? Fazer uma pesquisa na internet sobre algum tema é algo ainda em construção para muitos deles. Trabalho em grupo uma aventura. Interpretação de música uma maratona.
         Pode parecer desanimador e, algumas vezes, é mesmo. Por isso, ter tempo é necessário para o professor digerir algumas questões. Repensar sua prática. Estar bem. Parece também ser necessário entender, saber que tipo de educação nossos alunos tiveram até o momento que chegaram em nossas salas, precisamos estar cientes de que o processo de aprender é maior do que o conteúdo da disciplina. É necessário descobrir o que os motiva, o que lhes é interessante, como passar a mensagem, como ser compreensível, entender as limitações, as defasagens. Estou em uma instituição em que discutimos muito, tenho muito orgulho da equipe em que estou inserida. Dar aulas é um desafio constante, mas tal como viver é bom também. Principalmente, quando você percebe que se tornou importante, referência, quando conquistou a confiança de seus estudantes e aos poucos, de maneiras diferentes, em tempos diferentes vai notando que eles estão aprendendo e nota também que eles estão lhe ensinando.