terça-feira, 18 de outubro de 2016

Nova idade

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática etnicorracial.

Daqui poucos dias terá início a outra metade do meu caminho. Estatisticamente, terei alcançado o meio da vida. O tempo me avisa e me chama para fazer aqueles balanços, me cutuca a olhar para o que já passou e projetar o futuro. Tudo muito típico quando se está prestes a fazer aniversário, sensação previsível. No entanto, esse ano sinto algo diferente, talvez seja a idade que ora se prenuncia e com ela alguns rótulos que não parecem dar conta dos sentimentos internos e da maneira como ainda me vejo.
A imagem que eu tinha quando mais jovem sobre determinadas idades, não condiz mais a minha realidade e ao que sinto hoje em dia. Felizmente, não saltamos décadas, envelhecemos gradualmente, caso contrário a estranheza seria ainda maior.
O corpo não é o mesmo, um fio branco na sobrancelha, outros pelos cabelos, a pele que já não tem a mesma textura de antes. Não adianta os amigos dizerem que a genética me ajuda, eu sei que o tempo passou e que as marcas ficam. A nova idade quando pronunciada em voz alta não me causa calafrios, porém não parece fazer parte de mim. Eu sei, vocês vão dizer que estou exagerando. Mas, eu já anunciei no início desse texto, aniversário causa essas sensações e sentimentos mesmo.
Então, resolvo fazer o tal balanço e vejo que o saldo é positivo, tenho vivido com intensidade, tenho conquistas. Minha identidade se transformou nas últimas décadas: filha, amiga, estudante, negra, esposa, mãe, pesquisadora, professora. Tantas características esperadas, aprendidas e compartilhadas, outras tantas descobertas a partir da vivência e experiências únicas. Quanto aprendi a meu respeito a partir do convívio com o outro, na relação cotidiana, na convivência, na preocupação em estabelecer empatia. Não sou perfeita! Longe disso, mas sei que busco sempre me aprimorar, mesmo que não consiga, estou sempre disposta. Penso ser essencial estarmos dispostos ao aprimoramento, a ouvir, a sentir, a estabelecermos contato conosco e com os outros. Como é importante nos conhecermos ou, ao menos, tentarmos. Como é importante estarmos cientes de que generalizar tudo é sempre um risco que pode ser evitado.

Que os próximos 40 anos me mantenham nessa meta e vibração!