Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática etnicorracial
Tivemos no último sábado a oportunidade de aprender um
pouco sobre Arte Africana e Afrobrasileira no curso de extensão História e
Cultura Africana e Afrobrasileira que está ocorrendo no IFSP, campus Matão
desde agosto, sendo voltado para a formação de professores(as) em consonância
com a existência da lei 10.639/03 que instituiu o Ensino de História e Cultura
Africana e Afrobrasileira em todos os níveis de ensino no Brasil.
A discussão foi bastante intensa e conduzida pela amiga,
professora de Arte e doutoranda em Educação, Christiane Tragante que nos fez
pensar sobre os significados da arte e, em especial, da Arte Africana, ou como
concluímos durante a aula, artes africanas, assim no plural, a fim de dar a
dimensão da riqueza e diversidade que há no continente, não sendo possível
pensar de maneira generalizante.
Vale a pena mencionar que o segundo parágrafo da lei
10.639/03, menciona que “os conteúdos referentes à História e Cultura
Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial
nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.” Essa
seria uma justificativa importante para termos um módulo sobre Arte no curso de
formação que estamos realizando, ou seja, esse módulo foi elaborado para que pudéssemos
refletir buscando uma maneira de romper com as pré-noções e estereótipos que
existem sobre a arte africana e também sobre arte afrobrasileira.
Para quebrarmos essas barreiras que estabelecem
fronteiras tão rígidas sobre o próprio sentido e significado da arte torna-se necessário
que tenhamos a mente aberta e percebamos o quanto essas categorias são
construídas dentro de paradigmas, digamos, eurocêntricos.
É necessário um olhar para a arte africana e seus artistas
com outra perspectiva, pois muitos livros e estudiosos de arte usam conceitos
como arte primitiva, mas, primitiva para quem? Outros desconsideram a
existência da arte no continente africano quando escrevem seus manuais e álbuns
de História da Arte, porque não consideram o que foge aos padrões estabelecidos.
Se
por um lado podemos e precisamos aprender sobre as manifestações artísticas dos
diversos grupos sociais e étnicos existentes nos diferentes países do
continente africano, por outro temos a oportunidade de repensar as razões das
dificuldades em lidarmos com essa arte, em reconhece-las e o quanto estamos
impregnados por um pensamento que teima em se manter e invisibilizar séculos e
séculos de história e cultura.