terça-feira, 1 de novembro de 2016

Grande encontro

Na última quinta-feira dia 27 de outubro realizamos o Seminário “Quebrando barreiras do racismo: trajetórias de luta que se encontram”. Digo realizamos, porque ele foi construído de maneira coletiva durante as reuniões da Comissão Local sobre a Verdade da Escravidão Negra no Brasil instituída pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com apoio do NEAB (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros) e da Coordenadoria de Extensão do Curso de Direito, da Universidade de Araraquara (Uniara). Definimos o formato do evento: um encontro entre cinco mulheres negras expondo suas trajetórias na luta contra o racismo a fim de sensibilizarmos para o tema.
E o dia 27 se tornou uma noite maravilhosa! Auditório da Uniara repleto, de público respeitoso e atencioso do início ao fim do evento. Tal qualidade da audiência, com certeza, motivou ainda mais as falas das palestrantes. Havia reciprocidade nos olhares das pessoas, na maneira como reagiam ao que ouviam.
Tive a honra de iniciar os trabalhos, agradecendo a presença das demais palestrantes, todas amigas com quem tenho o prazer de conviver, Alessandra de Cássia Laurindo, Maria Fernanda Luiz, Nayara Amaral da Costa e Thainara Faria, mulheres negras com trajetórias diferentes, mas que se encontram justamente no compartilhamento de experiências comuns.
Falei um pouco sobre o racismo à brasileira traçando, de maneira breve, uma compreensão do que ele seria e buscando distingui-lo do racismo nos EUA e África do Sul, uma vez que essas duas sociedades são referência para muitas pessoas quando o tema é racismo. Há ainda muita dificuldade em se entender a maneira como o nosso racismo se configura, uma vez que a reprodução da existência de uma democracia racial ainda ter muito espaço na compreensão de quem somos. Mas, não é possível não enxergar a tamanha desigualdade entre brancos e negros em nosso país e refletir sobre suas causas e consequências.
O que se seguiu depois de minha fala foram justamente provas contundentes da existência do nosso racismo concreto, por exemplo, na ausência de mulheres na política e de maneira ainda mais evidente de mulheres negras, por isso, a eleição de Thainara Faria, estudante de Direito, para vereadora em Araraquara se torna um grande marco, referência e responsabilidade, foi isso o que ela própria mencionou, ressaltando as desigualdades de gênero e raça. A educação é com certeza um espaço para quebrarmos as barreiras, mas não pode ser o único como nos apontou Maria Fernanda Luiz, mestre em Educação e professora, em sua brilhante exposição, nos fazendo lembrar o quanto o vasculhar da memória é importante para recontarmos a nossa história. Nayara Amaral da Costa com elegância e profissionalismo apresentou sua trajetória de luta iniciada na atuação de sua família e consolidada dentro do Direito. Ainda quando estudante se dedicou a refletir sobre a saúde da população negra e as questões legais, agora como advogada convive com o racismo à brasileira, mas se coloca de maneira firme e vigorosa diante daqueles que teimam em dizer que esse não seria o seu lugar. A noite foi encerrada por Alessandra de Cássia Laurindo, socióloga, coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, talento, força, energia, dedicação, vontade de fazer a diferença, protagonismo, são algumas qualidades dessa mulher que por muitos anos tem conseguido reunir a comunidade negra araraquarense e atuar para a igualdade racial na cidade sendo referência para muitas outras no Brasil.
            O espaço dessa coluna é curto para expressar tudo o que senti nesse grande encontro. Foram tantas pessoas que vieram nos cumprimentar, que se sentiram representadas. Ao fim, saí com a impressão de termos apenas começado. Há muito ainda a dizer e muitos ainda que querem nos ouvir e se juntar a nós.