Na última quinta-feira dia 27 de outubro realizamos o
Seminário “Quebrando barreiras do racismo: trajetórias de luta que se encontram”.
Digo realizamos, porque ele foi construído de maneira coletiva durante as
reuniões da Comissão Local sobre a Verdade da Escravidão Negra no Brasil instituída
pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), com apoio do NEAB (Núcleo de Estudos
Afro-brasileiros) e da Coordenadoria de Extensão do Curso de Direito, da Universidade
de Araraquara (Uniara). Definimos o formato do evento: um encontro entre cinco
mulheres negras expondo suas trajetórias na luta contra o racismo a fim de
sensibilizarmos para o tema.
E o dia 27 se tornou uma noite maravilhosa! Auditório da Uniara
repleto, de público respeitoso e atencioso do início ao fim do evento. Tal
qualidade da audiência, com certeza, motivou ainda mais as falas das
palestrantes. Havia reciprocidade nos olhares das pessoas, na maneira como
reagiam ao que ouviam.
Tive a honra de iniciar os trabalhos, agradecendo a
presença das demais palestrantes, todas amigas com quem tenho o prazer de
conviver, Alessandra de Cássia Laurindo, Maria Fernanda Luiz, Nayara Amaral da
Costa e Thainara Faria, mulheres negras com trajetórias diferentes, mas que se
encontram justamente no compartilhamento de experiências comuns.
Falei um pouco sobre o racismo à brasileira traçando, de
maneira breve, uma compreensão do que ele seria e buscando distingui-lo do
racismo nos EUA e África do Sul, uma vez que essas duas sociedades são
referência para muitas pessoas quando o tema é racismo. Há ainda muita
dificuldade em se entender a maneira como o nosso racismo se configura, uma vez
que a reprodução da existência de uma democracia racial ainda ter muito espaço
na compreensão de quem somos. Mas, não é possível não enxergar a tamanha
desigualdade entre brancos e negros em nosso país e refletir sobre suas causas
e consequências.
O que se seguiu depois de minha fala foram justamente
provas contundentes da existência do nosso racismo concreto, por exemplo, na ausência
de mulheres na política e de maneira ainda mais evidente de mulheres negras, por
isso, a eleição de Thainara Faria, estudante de Direito, para vereadora em
Araraquara se torna um grande marco, referência e responsabilidade, foi isso o
que ela própria mencionou, ressaltando as desigualdades de gênero e raça. A
educação é com certeza um espaço para quebrarmos as barreiras, mas não pode ser
o único como nos apontou Maria Fernanda Luiz, mestre em Educação e professora,
em sua brilhante exposição, nos fazendo lembrar o quanto o vasculhar da memória
é importante para recontarmos a nossa história. Nayara Amaral da Costa com elegância
e profissionalismo apresentou sua trajetória de luta iniciada na atuação de sua
família e consolidada dentro do Direito. Ainda quando estudante se dedicou a refletir
sobre a saúde da população negra e as questões legais, agora como advogada convive
com o racismo à brasileira, mas se coloca de maneira firme e vigorosa diante
daqueles que teimam em dizer que esse não seria o seu lugar. A noite foi
encerrada por Alessandra de Cássia Laurindo, socióloga, coordenadora de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial, talento, força, energia, dedicação,
vontade de fazer a diferença, protagonismo, são algumas qualidades dessa mulher
que por muitos anos tem conseguido reunir a comunidade negra araraquarense e
atuar para a igualdade racial na cidade sendo referência para muitas outras no
Brasil.
O espaço dessa coluna é curto para expressar
tudo o que senti nesse grande encontro. Foram tantas pessoas que vieram nos
cumprimentar, que se sentiram representadas. Ao fim, saí com a impressão de
termos apenas começado. Há muito ainda a dizer e muitos ainda que querem nos
ouvir e se juntar a nós.