terça-feira, 29 de novembro de 2016

Conhecer sempre

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática étnico-racial.

Tenho conversado com vocês por meio dessa coluna sobre escolhas que fazemos e que os outros fazem ou fizeram por nós, sobre oportunidades de aprender, sobre a necessidade de mudarmos nossas perspectivas e estarmos sempre dispostos a ampliar nossos olhares e sermos mais sensíveis ao mundo em que vivemos e construímos. Na semana passada de 21 a 25 de novembro realizamos uma semana de atividades dentro do Mês da Consciência Negra no IFSP, campus Matão. Tivemos a oportunidade de discutir a temática étnico-racial com pessoas que vivenciam, estudam, entendem e se debruçam sobre temas importantes para repensarmos a nossa sociedade, os preconceitos e o racismo nela existentes.
Esses temas foram mais evidenciados nessa semana, por conta do 20 de novembro, mas pode e deve ser tratado nos 365 dias do ano na escola e em outros espaços sociais. Tratar a maneira desigual como negros e negras estão representados na nossa sociedade a partir da educação é uma obrigação que o estado precisa enfrentar sem retrocessos.
Nós conseguimos em nossas atividades construir um espaço importante de discussão e conhecimento. Iniciamos pela manhã com a Profa. Dra. Elisângela de Jesus Santos, do CEFET-RJ, que tratou de ações afirmativas realizando um breve percurso histórico e nos fazendo refletir sobre as causas que as justificam. Tivemos ainda à noite a palestra de João Bento uma grande liderança do movimento negro de Matão que atua de maneira vigorosa na luta contra a discriminação e o racismo, ele nos trouxe os heróis negros esquecidos pela história, ele se emociona e nos emociona com sua fala. Nessa mesma noite, pudemos ouvir o professor Júlio Ribeiro o qual tem feito um belo trabalho tanto no exercício de sua profissão quanto no trabalho de recontar a história dos negros em Matão, recolhendo depoimentos com os mais velhos, com os guardiões da memória.
Na terça-feira de manhã tivemos a palestra com o Prof. Dr. Dagoberto José Fonseca da UNESP, um grande nome da temática étnico-racial, meu orientador no mestrado, pessoa que me abriu um mundo de temas para ser estudados, aprendidos e vividos. Ele discutiu as piadas e o racismo no Brasil. À tarde, o Prof. Me. Luiz Fernando Costa de Andrade teve um papo muito sério com os estudantes, traçando uma compreensão sobre racialização, cor e cultura.
Na quarta-feira, foi o dia da capoeira ter seu espaço nas nossas atividades com o Prof. Flávio Rodrigues, Leianne Miranda e Edevandro do Manifesto Capoeira aqui de Araraquara. Foi uma participação preciosa que encheu de energia ancestral nosso campus.
Na quinta-feira, tivemos um dia repleto desde a manhã até a noite, com as presenças de Sumbunhe N´fanda, formado em Administração Pública pela UNESP, de Guiné Bissau passando aos estudantes uma outra maneira de se olhar para o continente africano, buscando romper com os estereótipos e preconceitos. À tarde, Elcio Riva Moura falou sobre o movimento indígena e nos trouxe a possibilidade e necessidade de pensarmos em uma aproximação entre as temáticas. Depois, foi a vez de Érica Alexandre dominar a área e expor a beleza negra, em sua oficina de turbantes. Valorizar a beleza negra é de extrema importância para a autoestima e para questões de representatividade. À noite, tivemos uma bela apresentação musical com Daia Fernandes e Felipe e, em seguida a Profa. Ma. Maria Fernanda Luiz, a advogada Nayara Costa e a estudante de direito e primeira vereadora negra eleita em Araraquara Thaiana Faria nos trouxeram reflexões importantes sobre educação, direito, saúde e política. Foi uma noite memorável de intenso debate.
         Encerramos na sexta-feira com uma vídeo conferência com o Prof. Me. Bruno Véras, doutorando na Universidade de York no Canadá que falou aos estudantes sobre a escravidão no continente africano, sobre categorias que muito ouvimos, mas pouco entendemos de fato. Foi sem dúvida uma semana incrível, de muito valor, aprendizado e reflexões que devem continuar nas nossas mentes por muito tempo ainda.