Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Tenho conversado com vocês por meio dessa coluna sobre
escolhas que fazemos e que os outros fazem ou fizeram por nós, sobre oportunidades
de aprender, sobre a necessidade de mudarmos nossas perspectivas e estarmos
sempre dispostos a ampliar nossos olhares e sermos mais sensíveis ao mundo em
que vivemos e construímos. Na semana passada de 21 a 25 de novembro realizamos
uma semana de atividades dentro do Mês da Consciência Negra no IFSP, campus Matão.
Tivemos a oportunidade de discutir a temática étnico-racial com pessoas que
vivenciam, estudam, entendem e se debruçam sobre temas importantes para repensarmos
a nossa sociedade, os preconceitos e o racismo nela existentes.
Esses temas foram mais evidenciados nessa semana, por
conta do 20 de novembro, mas pode e deve ser tratado nos 365 dias do ano na
escola e em outros espaços sociais. Tratar a maneira desigual como negros e
negras estão representados na nossa sociedade a partir da educação é uma
obrigação que o estado precisa enfrentar sem retrocessos.
Nós conseguimos em nossas atividades construir um espaço
importante de discussão e conhecimento. Iniciamos pela manhã com a Profa. Dra.
Elisângela de Jesus Santos, do CEFET-RJ, que tratou de ações afirmativas
realizando um breve percurso histórico e nos fazendo refletir sobre as causas
que as justificam. Tivemos ainda à noite a palestra de João Bento uma grande
liderança do movimento negro de Matão que atua de maneira vigorosa na luta
contra a discriminação e o racismo, ele nos trouxe os heróis negros esquecidos
pela história, ele se emociona e nos emociona com sua fala. Nessa mesma noite,
pudemos ouvir o professor Júlio Ribeiro o qual tem feito um belo trabalho tanto
no exercício de sua profissão quanto no trabalho de recontar a história dos
negros em Matão, recolhendo depoimentos com os mais velhos, com os guardiões da
memória.
Na terça-feira de manhã tivemos a palestra com o Prof.
Dr. Dagoberto José Fonseca da UNESP, um grande nome da temática étnico-racial,
meu orientador no mestrado, pessoa que me abriu um mundo de temas para ser
estudados, aprendidos e vividos. Ele discutiu as piadas e o racismo no Brasil. À
tarde, o Prof. Me. Luiz Fernando Costa de Andrade teve um papo muito sério com
os estudantes, traçando uma compreensão sobre racialização, cor e cultura.
Na quarta-feira, foi o dia da capoeira ter seu espaço nas
nossas atividades com o Prof. Flávio Rodrigues, Leianne Miranda e Edevandro do
Manifesto Capoeira aqui de Araraquara. Foi uma participação preciosa que encheu
de energia ancestral nosso campus.
Na quinta-feira, tivemos um dia repleto desde a manhã até
a noite, com as presenças de Sumbunhe N´fanda, formado em Administração Pública
pela UNESP, de Guiné Bissau passando aos estudantes uma outra maneira de se
olhar para o continente africano, buscando romper com os estereótipos e
preconceitos. À tarde, Elcio Riva Moura falou sobre o movimento indígena e nos
trouxe a possibilidade e necessidade de pensarmos em uma aproximação entre as
temáticas. Depois, foi a vez de Érica Alexandre dominar a área e expor a beleza
negra, em sua oficina de turbantes. Valorizar a beleza negra é de extrema
importância para a autoestima e para questões de representatividade. À noite, tivemos
uma bela apresentação musical com Daia Fernandes e Felipe e, em seguida a
Profa. Ma. Maria Fernanda Luiz, a advogada Nayara Costa e a estudante de
direito e primeira vereadora negra eleita em Araraquara Thaiana Faria nos trouxeram
reflexões importantes sobre educação, direito, saúde e política. Foi uma noite
memorável de intenso debate.
Encerramos
na sexta-feira com uma vídeo conferência com o Prof. Me. Bruno Véras, doutorando
na Universidade de York no Canadá que falou aos estudantes sobre a escravidão
no continente africano, sobre categorias que muito ouvimos, mas pouco
entendemos de fato. Foi sem dúvida uma semana incrível, de muito valor,
aprendizado e reflexões que devem continuar nas nossas mentes por muito tempo
ainda.