Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Nos últimos anos essa constatação tem sido a minha justificativa
para desenvolver e coordenar cursos de formação/atualização de professores, afinal
se um conhecimento precisa ser multiplicado não haveria personagem mais
importante para isso do que o professor. É esse público que tenho escolhido para
atingir muito mais pessoas. Cada projeto desenvolvido me faz manter a escolha e
valorizar ainda mais o papel social dos professores.
O conhecimento é algo fascinante! O quanto de novo
podemos aprender? Felizmente, não há um limite, não há uma idade para se deixar
de aprender. Mas, pode haver resistências construídas no passar do tempo, ideias
sedimentadas, incrustadas bem fundo. Pode haver perda da capacidade ou da
vontade de dialogar, podemos nos fechar em uma perspectiva e não nos abrir para
outras possibilidades.
Quando pensamos educação de um país, devemos levar em
consideração que tipo de educação queremos e que tipo de educação querem nos
oferecer ou nos impor. Reformas são importantes, porque a educação precisa
acompanhar as mudanças sociais, mas de que maneira elas devem acontecer? Quem
serão os protagonistas? Quais mudanças são escolhidas para embasar uma reforma?
Qual a amplitude, impactos, condições concretas de uma reforma ocorrer e ser bem-sucedida?
Não há como não pensar que tudo o que se passa no mundo social é construído pelos
seres humanos e fruto de um jeito de olhar para o que lhes acontece.
Essas poucas linhas são reflexões que se avolumam a cada
dia nas discussões com os colegas de profissão sobre as atuais propostas de
reforma da educação brasileira, a partir das nossas experiências comuns, ou
ainda por meio do curso que temos realizado no IFSP campus Matão sobre História
e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Vocês podem não acreditar, mas uma aula
de Arte e, especialmente, de Arte Afro-Brasileira, pode nos fazer enxergar o
quanto o Brasil que temos é fruto de escolhas.
Ficou bastante evidente para quem participou da aula conduzida
pela professora Christiane Tragante e por uma turma muito interessada, que
existe uma gama de artistas, para se ficar apenas nas artes visuais, negros(as)
com produção riquíssima, conhecimento, premiações, mas que não foram e não são
escolhidos para representar a identidade brasileira. Exatamente isso, não foram
escolhidos, pois se tinham a mesma capacidade, porque não tiveram e ainda não
têm o mesmo reconhecimento?
Tem havido um tipo de preferência
nas escolhas no Brasil, de como ser, de que país somos ou queremos ser, o que tem
levado à invisibilização de outras escolhas possíveis de maneira constante na
história do nosso país. Se, por exemplo, temas como história e cultura africana
e afro-brasileira deixarem de constar nas leis de educação e no currículo
escolar, parece-me que a preferência nas escolhas volta a não representar a
maioria de nossa população como sempre foi. É necessário refletir e lutar para
que haja mais representação e não menos.