Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Iniciei o
ano letivo de uma maneira um pouco diferente esse ano, algo bom, afinal nossa
prática precisa ser repensada, constantemente. É sempre um desafio enorme
ensinar. Penso que a profissão de professor deveria ser muito mais prestigiada
independente da área de ensino, pois conseguir passar conhecimento, dialogar
com pessoas que mal conhecemos no início, despertar e manter a atenção de uma
classe nos dias de hoje e ainda se tornar referência para muitas delas é algo
incrível. Alguns falam que é preciso ter vocação, pode ser, mas penso que é
preciso ter uma boa formação, ter valorização, ter recursos, ter condições para
se desenvolver na carreira, ter respeito.
Quando
criança, eu adorava brincar de escolinha. E durante toda a vida escolar gostava
de ajudar os colegas com dificuldades nas matérias. Sentia facilidade em
explicar os assuntos das aulas. Muitos professores e professoras me inspiravam,
tive sorte de ter grandes mestres. Felizmente, ainda tenho contato com muitos
deles.
Esse ano, a
primeira aula que tive com classes novas e já conhecidas, além das
apresentações corriqueiras da matéria, da professora e dos alunos, tratou do que
chamei de princípio norteador da disciplina e da relação que gostaria de
estabelecer com meus alunos e também que esperava que eles tivessem para com os
demais. Apresentei e expliquei para eles as palavras Ubuntu (eu sou porque nós
somos) e Sawabona (eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante para mim),
já conhecidas de vocês, leitores e leitoras. Duas palavras de origem africana
extremamente importantes e indispensáveis nos dias atuais. Disse a eles o
quanto a maneira como tenho conduzido minha vida e a relação com as pessoas têm
sido ancoradas nesses princípios e que nossa relação daquele momento em diante
também estaria baseada neles. Tivemos um bate papo e diversas explicações da
rotina, como de costume em uma primeira aula, mas nesse momento, quis trazer um
pouco de minha vivência na temática africana e afro-brasileira, valorizar e
aproximá-los de conhecimentos ainda desconhecidos por eles, despertar
curiosidade, reflexão, quebrar preconceitos e mais, medir o quanto eles estavam
abertos para algo novo, mostrando ainda o quanto a sociologia é essencial para
repensarmos o mundo em que vivemos.
A
aula foi rica, profunda e leve ao mesmo tempo. Senti-me feliz e repleta de
energia para os desafios desse ano.