terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Valores africanos

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática étnico-racial.

Iniciei o ano letivo de uma maneira um pouco diferente esse ano, algo bom, afinal nossa prática precisa ser repensada, constantemente. É sempre um desafio enorme ensinar. Penso que a profissão de professor deveria ser muito mais prestigiada independente da área de ensino, pois conseguir passar conhecimento, dialogar com pessoas que mal conhecemos no início, despertar e manter a atenção de uma classe nos dias de hoje e ainda se tornar referência para muitas delas é algo incrível. Alguns falam que é preciso ter vocação, pode ser, mas penso que é preciso ter uma boa formação, ter valorização, ter recursos, ter condições para se desenvolver na carreira, ter respeito.
Quando criança, eu adorava brincar de escolinha. E durante toda a vida escolar gostava de ajudar os colegas com dificuldades nas matérias. Sentia facilidade em explicar os assuntos das aulas. Muitos professores e professoras me inspiravam, tive sorte de ter grandes mestres. Felizmente, ainda tenho contato com muitos deles.
Esse ano, a primeira aula que tive com classes novas e já conhecidas, além das apresentações corriqueiras da matéria, da professora e dos alunos, tratou do que chamei de princípio norteador da disciplina e da relação que gostaria de estabelecer com meus alunos e também que esperava que eles tivessem para com os demais. Apresentei e expliquei para eles as palavras Ubuntu (eu sou porque nós somos) e Sawabona (eu te respeito, eu te valorizo. Você é importante para mim), já conhecidas de vocês, leitores e leitoras. Duas palavras de origem africana extremamente importantes e indispensáveis nos dias atuais. Disse a eles o quanto a maneira como tenho conduzido minha vida e a relação com as pessoas têm sido ancoradas nesses princípios e que nossa relação daquele momento em diante também estaria baseada neles. Tivemos um bate papo e diversas explicações da rotina, como de costume em uma primeira aula, mas nesse momento, quis trazer um pouco de minha vivência na temática africana e afro-brasileira, valorizar e aproximá-los de conhecimentos ainda desconhecidos por eles, despertar curiosidade, reflexão, quebrar preconceitos e mais, medir o quanto eles estavam abertos para algo novo, mostrando ainda o quanto a sociologia é essencial para repensarmos o mundo em que vivemos. 
A aula foi rica, profunda e leve ao mesmo tempo. Senti-me feliz e repleta de energia para os desafios desse ano.