Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Faz duas
semanas que não escrevo meus artigos. Não tem surgido inspiração, por mais que
haja centenas de assuntos que precisamos lidar, refletir e que não deixei de me
preocupar. No entanto, estou passando por um momento muito delicado em família.
É preciso ainda aprender a viver esse momento ou reaprender a viver depois
dele. Talvez, escrever sobre ele seja uma maneira de intensificar esse
reaprender.
Perdi uma
sobrinha de maneira trágica e muito precoce. Uma lindeza de menina. Uma dor sem
tamanho invadiu toda a nossa família, essa instituição social que mudou tanto
nas últimas décadas, mas que ainda valorizamos seja ela como for, porque nela
esperamos encontrar conforto, cumplicidade, confiança, apoio, amor. Momentos
como o que estamos vivendo nos provam que há nela ainda tudo isso independente
da configuração que ela venha a ter. E aqui incluo ainda aqueles amigos que são
como membros de nossas famílias, nos inspiram confiança, nos oferecem carinho e
não se furtam às dores do viver em comunidade.
Aprender! Está
aí uma saída possível para conseguirmos tocar a vida quando algo inesperado,
quando o destino embaralha nossa cabeça, porque a perda, a partida de alguém
que amamos causa uma tomada de consciência de nossa perenidade no mundo, de que
não estamos imunes às dores e dissabores da vida e da morte. Isso é doloroso!
Saber que somos frágeis, saber que não estamos preparados para lidar com esse
elemento tão presente em nossa vida: o fim. E aqui o fim é tanto a ideia de qual
a finalidade de estarmos vivos e o fim enquanto encerramento dela, reflexões e
questões que milhares de pessoas, sejam elas filósofas, teólogas, cientistas, eu,
você, fazem há centenas de anos. Não há uma resposta definitiva, unânime. Aprendemos
a viver com essa imprevisibilidade, mas mesmo assim quando nos defrontamos com
as perdas elas nos causam aquela dor no peito, um nó na garganta, um vazio
enorme que precisa ser preenchido com a vida, com mais aprendizado.
O
tempo costuma ser um grande aliado, não sei como, mas ele vai preenchendo os
espaços vazios, ele vai trazendo ordem ao caos que se faz em nossas mentes, vai
tentando nos deixar mais fortes, aos poucos vai nos mostrando os momentos bons
que vivemos juntos, vai apaziguando a dor, nossa e do outro, um outro que é
também parte de nós mesmos, porque estamos todos juntos nesse aprendizado e
nessa espera que o tempo faça o seu trabalho.