terça-feira, 21 de março de 2017

Estamos na luta

Valquíria Tenório é professora do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história e educação na temática étnico-racial.

                               
Temos vivido muitos desafios nesses últimos tempos. São tantas as demandas. Ficamos mesmo estarrecidos com algumas situações sejam pessoais ou coletivas. A vontade de fazer algo para termos mudanças substantivas é grande e constante. Com certeza, estamos na luta! Luta pela sobrevivência física, luta pela sobrevivência das ideias, luta para mantermos um mínimo de sanidade possível, pois, às vezes, parece que o mundo resolveu girar ao contrário. O que podemos fazer? Eu penso que temos feito. A tal passividade do brasileiro tão anunciada aos quatro ventos não é real.
Tenho trabalhado com meus alunos questões que tratam da invenção do Brasil, questões que perpassam a formação de nossa nação, povo, de nossa identidade. De que maneira fomos forjados, quais os discursos vencedores de uma brasilidade incompleta. Há tanto para se refletir.
Ouvir que o brasileiro não luta por mudanças é uma falácia. Sempre houve luta desde a chegada nada por acaso dos portugueses por essas terras, no entanto, um movimento de apagamento dessa disposição para a luta tem atuado intensamente na sua invisibilização e criação mesmo de uma identidade pautada apenas na alegria, na harmonia. Talvez, devamos ampliar a noção e significado que temos de luta. Não é apenas aquela travada com armas de fogo, com morte física e violência, mas sim um combate também de ideias, de visões, de ideologias. Há aquelas pessoas por inúmeras razões que se colocam ou são colocadas na linha de frente, mas há também aquelas que se posicionam cotidianamente de maneira combativa, em diferentes posições e espaços, lutando para que outras visões possam ser vistas, atuando  como vozes dissonantes de uma história única inviável e inexistente.