Valquíria Tenório é professora
do IFSP campus Matão, doutora em Sociologia e pesquisadora de cultura, história
e educação na temática étnico-racial.
Temos
vivido muitos desafios nesses últimos tempos. São tantas as demandas. Ficamos
mesmo estarrecidos com algumas situações sejam pessoais ou coletivas. A vontade
de fazer algo para termos mudanças substantivas é grande e constante. Com certeza,
estamos na luta! Luta pela sobrevivência física, luta pela sobrevivência das
ideias, luta para mantermos um mínimo de sanidade possível, pois, às vezes,
parece que o mundo resolveu girar ao contrário. O que podemos fazer? Eu penso
que temos feito. A tal passividade do brasileiro tão anunciada aos quatro
ventos não é real.
Tenho
trabalhado com meus alunos questões que tratam da invenção do Brasil, questões
que perpassam a formação de nossa nação, povo, de nossa identidade. De que
maneira fomos forjados, quais os discursos vencedores de uma brasilidade
incompleta. Há tanto para se refletir.
Ouvir que o
brasileiro não luta por mudanças é uma falácia. Sempre houve luta desde a
chegada nada por acaso dos portugueses por essas terras, no entanto, um
movimento de apagamento dessa disposição para a luta tem atuado intensamente na
sua invisibilização e criação mesmo de uma identidade pautada apenas na
alegria, na harmonia. Talvez, devamos ampliar a noção e significado que temos
de luta. Não é apenas aquela travada com armas de fogo, com morte física e
violência, mas sim um combate também de ideias, de visões, de ideologias. Há aquelas
pessoas por inúmeras razões que se colocam ou são colocadas na linha de frente,
mas há também aquelas que se posicionam cotidianamente de maneira combativa, em
diferentes posições e espaços, lutando para que outras visões possam ser
vistas, atuando como vozes dissonantes de
uma história única inviável e inexistente.